Na última quarta-feira, 01, a MPB FM encerrou suas atividades. A equipe foi demitida no dia anterior e teria sido totalmente pega de surpresa. Foi uma grande perda no dial carioca.
A rádio dialogava com alguns dos novos artistas que despontam na cena brasileira. Esse é um sinal de que os tempos de hoje não são favoráveis para esse tipo de mídia. No ano passado, a Rádio Cidade que, depois de retornar ao dial, também não durou muito. Para ter um panorama geral que vai além das estações musicais, alendária Super Rádio Tupi foi vendida em janeiro, após os funcionários fazerem greve por falta de pagamentos.
Em meio a conversas, postagens e textos em blogs, se levantam algumas questões clássicas: o que é realmente Música Popular Brasileira? O que é mais ouvido pela maioria da população ou o que é mais ouvido pela minoria mais influente? Segundo o dicionário Michaelis, “popular” é algo “relativo ou pertencente ao povo; próprio do povo, vulgar”. Pois bem.
A sigla MPB tem sua origem no início do Regime Militar, como bandeira da cultura contra o golpe. A junção da turma da Bossa Nova com a galera da música regional chegou a esse conceito. Em sua maioria, tratava-se de uma galera jovem, universitária e vivenciando um contexto nefasto no país.
Se lembrarmos que o sistema de cotas raciais no Brasil começou a existir há 17 anos e que ainda não há uma igualdade em números de alunos, formandos, pós-graduandos e doutores, já podemos ter uma ideia do perfil dos que começaram a dizer o que era MPB ou o que não era, mesmo que talvez não tivesse intuito de se pensar como um gênero musical.
É importante frisar: digo isso muito longe de diminuir a importância e a popularidade dos artistas dessa época. Musicalmente, foi um período fantástico da criação musical no Brasil, mas é necessário entender a fluidez do mundo. A favela e a periferia, que só cresciam e ainda crescem, começaram a se aprimorar na potência artística, no que diz respeito a difundir sua cultura em outras regiões e a ditar o que era moda e tendência dentro de ela mesma. Pensar de dentro dela mesma é pensar de dentro da maioria da população.
Em meio aos debates sobre o que é pop ou popular (que podem ser parecidos, mas não são iguais), há um grande fato sobre a queda das rádios musicais: a falta de estreitamento de diálogo com o que acontece na rua, na vertente musical a que se propõem. Fomentar é mais do que dar visibilidade a outros artistas, mas também é uma forma de ampliar o próprio raio de ação de quem abre estas portas. Basta ter sustentação para se garantir.
Como disse o mano Samuel Lima em um texto no seu perfil, que me provocou para essa coluna de hoje: “De qualquer forma, nós estaremos ali, igual praga/antídoto, sendo fenômeno de YouTube, Soundcloud, Facebook, etc., até um dia montarmos a nossa MPBFM”.
E se tratando de nós, da galera que tem o gosto pelo que é ilegal, imoral e engorda, não nos falta ginga. Vem de berço.