Dados da pesquisa “Muito Além da Black Friday”, lançada pela plataforma Gente, expressam que, 32% dos brasileiros não compram na Black Friday, pois, não acreditam nas ofertas, não tem dinheiro para gastar ou não fazem compras por impulso. Apesar de 68% ter o costume de adquirir algo neste período, neste ano apenas 42% pretendem consumir.
No entanto, sete em cada 10 brasileiros deixaram de comprar algo durante a pandemia e, oito em cada 10 vão confirmar se é, realmente, uma promoção antes de decidir. Além disso, com a pandemia, o número de pessoas comprando em lojas físicas apresentou uma queda de 19% entre 2019 (33%) e 2020 (14%).
Cecilia Martins de Oliveira, 57 anos, professora da educação infantil e moradora da periferia do Jardim Pedreira, em São Paulo, não acompanha a Black Friday. Segundo ela, os preços não são tão diferentes dos dias normais e acredita ser uma estratégia do mercado para acelerar o consumo. “Movimenta o comércio, mas, por outro lado, incentiva as pessoas a gastarem com o que elas não precisam”, comenta.
A CBC News mostrou recentemente que as compras online têm uma taxa de devolução de 30 a 40% frente a 10% das lojas físicas e que muitas dessas devoluções vão parar direto em aterros sanitários ou são incineradas, o que gera muito desperdício. De acordo com Bárbara Poerner Pereira, ativista e redatora da Fashion Revolution no Brasil, movimento global que sensibiliza para os impactos da indústria da moda, essa questão pode ser um problema maior esse ano, pois, devido a pandemia, as compras se concentraram no âmbito virtual. “A Black Friday representa um ponto complexo da indústria porque impacta negativamente na sustentação de um sistema baseado em hiperprodução, hiperconsumo e hiperdescarte”, aponta.
Bárbara esclarece que brechós, assim como pontos de troca, são exemplos de modelos que ajudam a subverter essa lógica de adquirir sempre coisas novas. A ativista relata ainda a existência de marcas que nascem com esse propósito de consumo consciente, porém, é importante desmistificar que elas são sempre caras. “É preciso se atentar em como essas marcas se posicionam o ano inteiro e não só em um período de Black Friday”, expressa.
Cecilia é adepta dos brechós, porque paga a metade do preço em coisas que foram descartadas ainda novas. Apesar de ser uma frequentadora assídua, afirma só comprar aquilo que realmente precisa. “Eu sou aquele tipo de pessoa que quando vai ao shopping, brechó ou alguma loja, sempre pensa: eu preciso comprar isso no momento?”, comenta a professora. Ela relata também que doa algumas de suas roupas para um local que as recicla fazendo tapetes e que é importante saber qual é o destino de suas roupas.
Para Bárbara isso é muito importante, pois, segundo ela, as pessoas são muito afastadas dos processos de produção, e não exigem transparência das marcas, indústrias e varejistas sobre quem as realiza e como os produtos foram feitos. A ativista destaca ainda que essa cobrança deve ser feita também aos setores públicos, para que façam valer a legislação e fiscalização acerca desses processos.
Entretanto, Bárbara esclarece que antes de pensar em consumo consciente, é importante questionar se ele é possível dentro de uma sociedade capitalista que funciona a base da alienação e da exploração do trabalho e natureza. Para ela, o primeiro ponto é fazer esse movimento contrário de olhar para as desigualdades existentes no país. “A pergunta não é sobre consumir marca sustentável, mas, o porquê de existir tanta desigualdade socioeconômica que impede pessoas de acessarem bens materiais x ou y”, conclui.
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