Não é hora de omissão

Entre tantas declarações estapafúrdias, o capitão disse há poucos dias a uma rádio de Barretos, a terra do peão boiadeiro, que seu projeto é fazer o Brasil voltar no tempo 40, 50 anos, o que a líder da direita francesa Marine Le Pen deverá incluir entre os ditos “extremamente desagradáveis” que a afastam politicamente dele. De fato, qual político no mundo polarizado de hoje terá a coragem de defender a volta ao passado como forma de andar para a frente? Ao contrário do antigo adágio, Bolsonaro afirma que “pra trás é que se anda” e o distinto público aplaude sem raciocinar, apenas pelo modismo político de bater palmas para maluco dançar.

Há meio século não havia, por exemplo, whatsapp, as mentiras eram disseminadas em comícios e pelos jornais sem preocupação com o que pudesse acontecer ao candidato mentiroso e caluniador. Por isto ele propõe a volta ao passado, o retorno incondicional à ignorância  na qual ele foi criado. Há 50 anos era impossível trazer à tona a contribuição criminosa de empresários como a denunciada pela repórter Patrícia Campos Melo na Folha de S. Paulo. E como felizmente não vivemos naquele tempo, o caixa dois está exposto em detalhes e só não impedirá a caminhada odiosa do capitão se a justiça mais uma vez se calar e mais uma vez comprovar com esta omissão que está do lado errado, do lado anti Brasil, contra a lisura do processo eleitoral já tão deturpado com o afastamento de Lula da disputa, contra o povo brasileiro, enfim.

Parece inadmissível que um país do tamanho do nosso, com a importância que tem no cenário internacional, viva uma farsa assim. Mas apenas parece, porque esta é uma preocupação que não tira o sono do candidato militar e de seus apoiadores. Eles integram a pequena parcela da população que defende a não existência do Brasil soberano e digno; ao contrário, querem o país sob a tutela dos Estados Unidos e rendido ao capital internacional em crise. Nossas forças armadas são formadas em sua maioria por gente doutrinada pelo “grande irmão do norte” e as elites civis nunca deram a mínima para o Brasil, muitos de seus filhos sequer nasceram aqui, são estrangeiros ou foram educados em escolas bem distantes. A questão dos direitos conquistados nos anos recentes é secundária, as reformas criminosas de Temer mostram claramente. A entrega do pré-sal às multinacionais do petróleo, a alienação do patrimônio do povo, as seguidas decisões dos juízes contra o direito são o retrato desse descaso.

O capitão quer voltar ao tempo da ditadura porque não estudou história, não aprendeu coisa alguma a não ser atirar. Suas declarações bombásticas encontram eco no eleitorado porque o cidadão está cansado da política e da insegurança em que está mergulhado. Como seu ídolo, desconhece que segurança é sinônimo de tirania quando não se pauta pela liberdade individual. Desconhece que a violência vem do alto, a maneira errada de tentar resolver os problemas com muros e cercas e câmeras de monitoramento e prisões. Não será com base no desrespeito à cidadania que o futuro será construído. Só tem saudades da truculência da ditadura quem não a viveu ou não sofreu naquele período sombrio de censura, perseguições, desaparecimentos e esquadrões da morte.

É preciso, essencial, urgente que tenhamos uma frente democrática para impedir o avanço dessa gente fora do tempo. Temos de usar os mesmos meios para alcançar o maior número de pessoas iludidas pela cantilena do ódio e da violência. As redes sociais, o mesmo whatsapp, o tuíter, as conversas particulares, tudo que estiver ao alcance para criar a barreira contra o retrocesso bárbaro que nos ameaça com intensidade crescente à medida que se aproxima o domingo do segundo turno. Não é hora de silêncio, a omissão de cada um será a mesma da justiça que a tudo assiste como se não tivesse nada ver com o cenário trágico. Por isto e por tudo o mais: Haddad 13!.