São 13h do dia 29 de Julho de 2012, e pela busca que acabo de fazer na grande rede nem uma notinha.
Por volta das 16:30h de ontem, 28 de julho, muitos tiros puderam ser ouvidos. Imediatamente os telefones começam a tocar. São avisos de que a “coisa” não vai bem. Mais uma vez a máquina de matar está a solta e quem não tem peito de aço, que se cuide e trate de se proteger.
16:30h: campo de futebol. Crianças por todos os lados. O lazer da cervejinha interrompido pelas balas, que de doce não tem nada.
Pela manhã, por volta das 7h, também de ontem, horário em que muitos estão a caminho de seus postos de trabalho; quando as mães de família estão saindo para o supermercado; quando alguns saem pros cursos que só conseguem fazer aos sábados; quando outros chegam de uma boa noitada: operação policial (pra quê?).
Dizem que um policial foi baleado, o que de certa forma anunciava o que estava por vir: intenso tiroteio, pelo menos três mortos, pânico nos rostos apavorados sem saber o que havia, mães correndo com seus filhos para o lugar mais protegido possível. Se é que existe lugar que possa proteger um civil das potentes balas de fuzil!
E nós não merecemos uma notinha…
Um cenário de pânico, dor, e incerteza se instaurou em Manguinhos ontem. O Arraiá das Marias, realizado pela Casa da Mulher de Manguinhos e pelo Centro de referência da Juventude (no DSUP) foi interrompido por um momento, quando as pessoas começaram a receber as ligações de seus familiares e amigos avisando sobre o perigo.
E nós, não merecemos uma notinha, um comunicado. Nada.
As “autoridades” desse Estado nos querem assim: em pânico, aprisionados pelo medo.
Parece que nos dizem: “não saiam de casa, ou vocês podem ganhar um balaço!”. “Não se rebelem”. “Não gritem, nós não os estamos escutando”…
À meia-noite o clima era tenso: alguns tiros mais foram ouvidos, e o silêncio se instaurou…
No futuro, chegarão com uma falsa solução: pacificação. Não quero pseudo-pacificação. Quero respeito! Quero nota nos jornais com as palavras dos que me devem explicações sobre o que acontece com a minha cidade, com a minha favela.
Porque o meu povo tem que ser violentado todos os dias? Porque o governo do estado e a Policia Militar nos dão tiros, mortes e o BOPE? Por quê?
Será que os 50 mil moradores e moradoras de Manguinhos merecem ser desrespeitados dessa forma, com o maldito discurso do combate ao crime?
Porque precisamos conviver com práticas fascistas e com o assassinato dos jovens negros e pobres? Porque uma maquina de matar às quatro da tarde?
E nós não merecemos nem uma nota nos jornais. Não como mereceu a inauguração da estação de trem às pressas, diante de tantas mazelas… aquele lugar lindo.