Há muitas coisas a serem ditas sobre 2018. Talvez nem todas sejam ruins, mas leve não foi. Mesmo que entrar em 2019 possa dar a sensação de afundar um pouco mais em areia movediça, minha indignação talvez tenha uma pitada de positividade. Muitos homens influentes estão finalmente sendo expostos como os misóginos ou predadores sexuais que são. Em momentos como esses, temos a oportunidade de fortalecer nossos laços, processar sentimentos complexos, e aprofundar o nosso trabalho.
Não deve haver vergonha em ser pega de surpresa, não somos culpadas por cair nas armadilhas planejadas por pessoas manipuladoras. Isso não significa que estamos desamparadas. Podemos tomar medidas para ouvir, apoiar, denunciar e impedir que aconteça novamente.
Não somos culpadas, nem indefesas.
Como editora, tomo decisões cuidadosamente, com recursos limitados. A maioria das pessoas com quem trabalho nunca conheci pessoalmente, o que tem seus prós e contras. Minha plataforma tem colaboradores do mundo todo, portanto, têm uma ampla diversidade de perspectivas. Isso enriquece o conteúdo do site e fortalece uma rede global de pessoas incríveis e talentosas. Mas, virtualmente, é quase impossível saber com certeza como todos os nossos colaboradores se comportam diariamente em suas vidas e pessoais. Precisamos ser críticas das personalidades on-line em relação às pessoas na vida real.
Julgo artigos com base em minha avaliação não apenas da escrita, mas também da impressão que tenho da opinião do escritor sobre as mulheres. Alguns sinais alarmantes que reconheço incluem: masculinidade exagerada, binarismo de gênero, extrema arrogância, sexualizações gráficas, objetificação das mulheres, rejeição/desmerecimento do feminismo, metáforas insensíveis, piadas constrangedoras, e assim por diante.
Infelizmente, não é possível garantir um espaço completamente seguro. O mundo está muito contaminado, sempre haverá uma chance de que nossos melhores esforços não sejam suficientes. Especialmente quando somos confrontadas com esforços elaborados de pessoas tóxicas para cometer diversas fraudes emocionais. Ainda assim, nós sempre nos esforçamos para sermos melhores, e aprender.
Um tipo comum de fraude emocional é quando homens influentes usam elogios para reduzir a auto-estima de uma mulher para caber na palma da mão dele. Primeiro eles fazem você se sentir bem elogiada, até uma crítica desnecessária fazer você se sentir pior, e então você se torna dependente da validação deles para recuperar seu equilíbrio ou dignidade. Parece inofensivo, mas não é, porque somos coagidas a pensar que precisamos deles para ter nosso trabalho validado, ou nossa auto-estima bem estruturada. Elogios se tornam tóxicos quando são usados para exercer poder sobre o outro.
“Catcalling” é um tipo de elogio tóxico, que se torna progressivamente mais destrutivo quando começamos a pensar que precisamos dele para nos sentir sexy, ou nos faz temer por nossa segurança. Esses elogios também acontecem muito em ambientes profissionais, mas nem sempre reconhecemos sua toxicidade. É como se dependêssemos de quem assobia pra gente na rua para garantir nosso salário, por isso aprendemos a não apenas aceitar, mas também buscar a validação de homens mais influentes em nossas áreas profissionais.
Qual é a diferença entre ser elogiada e ser respeitada? Uma é uma expressão de aprovação, e a outra de admiração. Esta é uma diferença monumental. Aprovação implica validação de uma figura de autoridade; isso significa poder. A admiração implica alta estima de um apoiador; isso significa empoderamento.
Merecemos trabalhar e viver em um ambiente onde somos respeitadas, e temos o direito de lutar para construir este espaço para nós mesmas. 2018 foi de máscaras caídas e destruição, 2019 será de erguer estruturas e revolução.