Confesso que… Parei. Vou ficar quieto. Vou parar de verbalizar minhas agonias socioexistenciais de carioca nesta catastrófica década do terceiro milênio. A mesmice venceu.
A mesmice está ostentando, está orgulhosa e, mesmo com essa expressão apática, a mesmice está triunfante. A mesmice também está fazendo pirotécnicas performances. A mesmice está prendendo uns para tirar o foco de outros – estes, tão absurdamente soltos e no comando. O Tribunal foi preso, mas propina corria solta no Olimpo Fiscal. O governador está preso, mas sua esposa está solta – já voltou para casa para cuidar dos filhos, dar papinha de propina. O atual governador já se chamou Pezão, mas foram tantos cortes que ele já virou apenas “Pé” – agora, alguns já até murmuram: “Unha”.
O conflito armado está generalizado, mas, diga-se de passagem, apenas nas favelas. A mesmice é a mãe coruja do apartheid. Os alunos estão deitados no chão enquantos o fuzis dialogam. É sempre na hora da escola, não é, comandante? Para fazer jus à mesmice.
É a guerra: a guerra às drogas, essa mesmice. A guerra às drogas, esse nosso Vietnã. A guerra às drogas, essa infanticida. Mataram um avô. Morreu uma neta. Parece que cumprem metas. A mesmice sempre cumpre horrendas metas.
Parei… Vou ficar parado. Mas vou manter o olho arregalado, e vou continuar circulando, de rolê e a trabalho, de trem, de carro velho, de táxi com desconto. Esta cidade… Ela é uma confederação de cidades. As veias abertas da metrópole latina, litoral, morruda, tão linda, imunda, florida, adorável, suicida. A natureza é a boa mesmice, a desprezada mesmice para a implantação da pervertida mesmice.
Vou ficar quieto. Vou parar de escrever, vou parar de falar. Não sei quanto tempo vai durar. Mas agora eu gostaria de um silêncio e de um vazio. Acho que o vazio pode virar um ninho, e algo novo pode vir a voar.
A mesmice venceu… Mas a gente nunca se rende. Só recua, aguarda e trama.