Apesar de serem um quarto da população total, os negros norte-americanos são, proporcionalmente, as maiores vítimas até agora da pandemia no Estados Unidos. A razão principal do fenômeno é a dificuldade de acesso a renda, saúde e assistência médica. E embora as estatísticas oficiais não distingam pacientes por raça, as particulares denunciam o cenário, informa o The New York Times hoje, 8.
São levantamentos preliminares, e muito não é sabido mas os indícios iniciais de vários lugares são suficientes para políticos afirmarem que é preciso agir imediatamente para prevenir a potencial devastação de comunidades negras. A tendência preocupante está sendo vista em todo o país, entre pessoas nascidas em décadas diferentes e de profissões variadas.
“É um momento de chamamento à ação para todos nós”, disse a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, onde mais da metade das pessoas infectadas e 72% das que morreram são negras, apesar de negros serem menos de um terço dos habitantes da cidade.
Em Illinois, 43% dos mortos de Covid-19 e 28% das infectadas são negras um grupo que compõe apenas 15% da população desse estado. Os negros somam um terço dos testes com resultados positivos em Michigan e 40% das mortes no estado, mas formam apenas 14% de sua população. No Louisiana, um terço da população é negra, mas 70% das pessoas que morreram de Covid-19 até agora são negras.
Na terça-feira, 7, o presidente Donald Trump reconheceu os sinais crescentes de disparidade e disse que as autoridades federais trabalham para, nos próximos dois ou três dias, oferecer estatísticas que ajudem a esclarecer a questão.
“Por que a comunidade afro-americana é tantas vezes mais afetada que qualquer outra?”, perguntou ele numa das entrevistas coletivas diárias sobre o coronavírus. Para muitos especialistas em saúde pública, as disparidades não são difíceis de explicar: são frutos de desigualdades estruturais que vêm de longa data.
É possível imaginar a cena do presidente Jair Bolsonaro fazendo a mesma indagação à saída do Palácio da Alvorada pela manhã? Ou o ministro da Saúde anunciando na entrevista coletiva diária que o governo está debruçado sobre essa questão? Talvez um acadêmico sugerindo um estudo?
No entanto, se o acompanhamento diário feito no Brasil levasse em consideração a raça dos infectados e mortos, o resultado seria muito mais alarmante do que nos Estados Unidos. Se considerarmos a “dificuldade de acesso a renda, saúde e assistência médica” e também que negros e mestiços formam mais da metade a população do país, a que números chegaríamos?