Enquanto as autoridades comemoram em desfiles pomposos o Dia da Independência, uma verdadeira farsa está sendo montada nos bastidores do poder, farsa esta que tem na contrainformação o seu principal instrumento e que terá como resultado último sepultar de vez a independência do favelado. Como se sabe, a contrainformação pode ser entendida de modo geral como um ato que pretende obter certos resultados políticos por meio da divulgação massiva de informações distorcidas nos meios de comunicação de massa, informações estas nas quais não se distingue mais o fato da interpretação.

Para esconder do povo a falência de sua política de segurança, falidas já a saúde, educação e transporte, o governo do Estado do Rio de Janeiro, aliado a setores irresponsáveis da imprensa, coloca em prática o que podemos interpretar como uma verdadeira campanha de contrainformação.

Qual seria a finalidade desta campanha? Retirar a legitimidade das inúmeras manifestações que se multiplicam nas favelas submetidas à ocupação militar, ocultando assim aos olhos do restante da população não apenas a falência completa de sua política de segurança, mas um barril de pólvora prestes a explodir. Exemplos da insatisfação popular foram largamente noticiados nas últimas semanas. Antes dos conflitos entre moradores e tropas do exército brasileiro registrados neste início de Setembro de 2011, ocorreram anteriormente incidentes semelhantes no Turano, no Pavão Pavãozinho, no Cantagalo e até mesmo no Santa Marta, primeira comunidade a ser militarizada.

Em todos estes casos apontados acima, os incidentes não se relacionam propriamente com confrontos com bandidos, que devem ser combatidos com inteligência e rigor, mas com a insistência em impor à população favelada procedimentos, regras e padrões militares de comportamento, submetendo assim aos critérios e à hierarquia da caserna a dimensão política e cultural do povo, seus mais caros bens. Se considerarmos estes incidentes a partir de uma perspectiva política mais ampla, veremos que eles representam partes de uma ampla tentativa de exercer o controle completo da mão de obra e do comportamento político dos trabalhadores favelados, fazendo assim com que os efeitos da luta de classes sejam restritos apenas a territórios ocupados por tropas de guerra.

Logo após os incidentes desta semana no Complexo do Alemão, nos quais vimos o povo reajir mais uma vez à truculência, ao toque de recolher e ao cerceamento de direitos assegurados pela Constituição, vemos não apenas a ocorrência de supostos tiroteios entre bandidos e traficantes, mas uma grande pressa de alguns órgãos de imprensa em associar os disparos a bandidos sem antes fazer uma verificação básica das fontes.  No entanto, inúmeras testemunhas apresentam versões conflitantes. O jornalista Patrick Granja, por exemplo,  estava dentro do Complexo e testemunhou que os tiros partiram de locais proximos a bases das forças de ocupação.

Tudo isto nos leva a considerar a hipótese – e que fique claro que se trata de uma hipótese – de que está sendo colocada em prática pelo Estado uma campanha de desinformação destinada a eliminar a legitimidade das manifestações populares contra a ocupação militar que se multiplicam em ritmo crescente nas favelas, escondendo assim a falência de sua política de segurança. Afinal, todos sabemos que a demonização, técnica de contrainformação que consiste em identificar a opinião contrária com o mal, possui uma eficácia incrível quando associada à divulgação intensa nos meios de comunicação em massa.