A Liberdade é um bairro muito conhecido em São Luís, capital do Maranhão, berço de manifestações culturais populares como o bumba meu boi, tambor de crioula e cacuriá. Recebeu seu reconhecimento oficial como Quilombo Urbano em novembro de 2019. E é regada por muita gente batalhadora e que empreende desde muito cedo.
Sendo quilombo e carregando na sua essência a ancestralidade do povo negro, a tecnologia do trançar é um empreendimento comum no bairro, em especial pelas mulheres negras. E como elas poderiam imaginar que aqueles primeiros penteados que aprenderam com suas avós, hoje se tornaram sua fonte de renda e independência financeira?
Thaís Amorim, empreendedora, trancista e mulher negra do Quilombo Urbano, Liberdade, concedeu entrevista à Agência de Notícias das Favelas (ANF), em que fala da sua trajetória, além de contar os desafios da profissão.
Quem é Amorim e Tranças?
Estamos na avenida principal da Liberdade, do Quilombo Urbano, e o nosso empreendimento é cabelo, tranças. Trabalhamos com goddess braids, box braids, twists, nagôs e afins.
Qual a motivação para empreender na área?
Começamos a empreender desde 2017, isso porque foi um grande desafio que eu passei, por transição, por ter feito selagem no cabelo, e ele caiu, meu cabelo todinho. Caiu, e eu deixei vim o natural. E, consequentemente, vieram vários desafios, que a gente tinha nessa época, de não aceitação, de não ficar com o cabelo curto, de achar que cabelo curto era cabelo de homem. Eu resolvi colocar trança com um amigo meu. Nisso, a minha irmã achou interessante e veio a aprender. Aí, desde 2017, a gente começou: rapaz, isso é uma coisa que vai dar frutos e está dando até hoje.
Quem são seus clientes, como é o movimento?
Graças a Deus, nós contamos mais de mil clientes no ano. Já passaram muitas pessoas, acredito que uns cinco mil clientes desde a inauguração. Eu digo pra você que é uma renda boa, mas que merece ser muito valorizada. Cada aplicação, a gente tem uma história, a gente passa por uma história com cada pessoa que senta nessa cadeira, conta como é que foi pra colocar tranças, tem muito preconceito enraizado. Nós estamos aí, somos um grupo de cinco, e a gente já resolveu a autoestima de muitas pessoas.
Quais foram os principais desafios do início da profissão?
Na época, a gente usava linha princesinha, era muito difícil. A gente tinha que desenrolar os tubos, conferir linha por linha para colocar na cabeça da cliente, era um processo e tanto. A gente evoluiu demais. Às vezes, a gente passava um dia colocando as tranças na cabeça de uma cliente, começava sete horas da manhã, terminava oito da noite, ou até dez, dependendo da quantidade de cabelo. Mas é um processo de transformação.
Como aprenderam a profissão?
Na época da pandemia, a gente assistia muito vídeos online e trancistas de todo o Brasil. Elas dão aula, então é muito fácil quando a gente nasce com esse dom de trançar, de cuidar do cabelo. Existem outros cursos presenciais, que a gente tenta participar, não te digo que é sempre, porque o tempo é corrido. E é assim que a gente vem ganhando a vida no nosso Quilombo Urbano.
Qual a maior satisfação ao finalizar seu trabalho?
É o sorriso de satisfação da cliente. A gente diz ‘vamos ali tirar foto’, e a cliente, com um sorrisão dizendo que ficou linda, que está amando o cabelo, essa é a maior satisfação. Fora que é uma renda ótima, outra sensação perfeita.
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