Novas cores para contar a história do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo

Pinturas artísticas de fachadas de casas que integram acervo do Museu de Favela são restauradas.

A obra Lata d’água foi a primeira a ser restaurada no Museu de Favela / créditos: Divulgação Museu da Favela

Fundado em 2008, o Museu de Favela (MUF) é o primeiro museu territorial e vivo sobre memórias e patrimônio cultural de favela do mundo.

Localizado sobre as encostas íngremes do Maciço do Cantagalo, entre os bairros de  Ipanema, Copacabana e Lagoa, na Zona Sul carioca, o museu foi criado por lideranças culturais moradoras das favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, e tem como principal atração o Circuito das Casas-Tela, uma galeria a céu aberto formada por pinturas (arte naif e grafite) nas fachadas de 27 casas que conta a história do local. No fim de janeiro, a memória da formação dessas três favelas começou a ganhar novas cores e grafites com o restauro de duas casas-tela por meio da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural.

“Posso classificar esse trabalho como o maior desafio da minha carreira de 25 anos, pelo fato de mergulhar na história e trazer à tinta questões que estavam esquecidas. O museu quer ressuscitar a verdadeira cultura da favela, do samba de raiz, da capoeira, da boa conversa de porta”, diz o grafiteiro e artista plástico Carlos Esquivel, mais conhecido como Acme, um dos fundadores do Museu de Favela, curador do circuito e cria do morro Pavão. 

Acme e a gerente de pesquisa, acervo e memória do projeto no plano de ações culturais para manutenção e sustentabilidade do Museu de Favela, Rita Santos, fizeram um levantamento e selecionaram as duas casas-tela que mais necessitavam de reparo emergencial: a de número 3 (Lata d’água) no Cantagalo e a casa-tela 13 (Sobrevivência, Paquera e Brizola) no Pavão. 

créditos: Museu da Favela

“O circuito  das Casas-Tela foi criado em 2009, contemplado pelo edital Modernização de Museus do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura). Desde então, nunca mais teve recursos financeiros para remunerar os artistas para restaurar as casas-tela”, conta Rita. 

Em 29 de janeiro deste ano, Acme deu início ao trabalho de restauro da “tela” da casa 3, que retrata uma mulher negra carregando uma lata d’água na cabeça, remetendo à época em que não havia abastecimento de água no morro. Para essa obra, ele convidou o artista Nacapa, morador da comunidade.

Em conversa com a guardiã da arte (moradora da casa), eles receberam um pedido: usar cores mais alegres. Para o restauro da casa 13, no Pavão, Acme convidou o grafiteiro Mesa, outro artista local. As casas tiveram a pintura não só renovada como ampliada, mas mantendo a arte principal.

“As paredes precisavam de restauro. Eu achei linda a pintura, fiquei emocionada. Esse trabalho deve ser muito valorizado. É importante ter as paredes pintadinhas porque vai ajudar muito as pessoas a não mais colocar sacos de areia ou de entulho aqui, o que dá infiltração e junta rato, lacraia”, diz a guardiã da casa-tela 13, Maria de Lourdes Vieira, de 72 anos, moradora da comunidade do Pavão desde 1971. 

O endereço do Museu da Favela é:
Rua Alberto de Campos 12, Ipanema, Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2267-6374
www.museudefavela.org

Para conhecer mais o trabalho do Acme, acesse:
Instagram: https://www.instagram.com/universoacme/?hl=pt-br

Matéria publicada originalmente no Jornal A Voz da Favela em Março de 2021.

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