A concentração de jornalistas para a posse do presidente Jair Bolsonaro começou as 7:30 da manhã e foi até 14:45 da tarde, a espera precoce, no entanto, foi apenas a primeira barreira enfrentada pelos 600 jornalistas credenciados para a posse. Ainda no CCBB, os jornalistas passaram por detector de metais, e os pertences foram escaneados em um aparelho de raio-X. O cerimonial da posse chegou a divulgar que mochilas seriam proibidas até mesmo para a imprensa, mas acabou recuando.
A orientação era que os jornalistas trouxessem comida em sacos plásticos transparentes, já que dentro do Congresso as lanchonetes e restaurantes não estão funcionando, e, do lado de fora, a presença de vendedores ambulantes foi proibida. Mas alguns profissionais foram surpreendidos ao terem itens de alimentação barrados. No CCBB, um repórter foi impedido prosseguir com uma maçã que levava na mochila os seguranças justificaram que só poderia seguir com a fruta se ela estivesse fatiada. Um outro profissional teve um garfo confiscado.
Assessores da Secretaria de Comunicação do Planalto da gestão do presidente Michel Temer, informaram que a proibição de “frutas redondas” e inteiras como maçãs, pêras ou laranjas ocorreu para evitar que elas fossem arremessadas na direção do Planalto.
Em nota a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) se pronunciou sobre o ocorrido:
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade de representação nacional da categoria, vem a público manifestar seu veemente repúdio às restrições ao trabalho dos jornalistas e ao tratamento desrespeitoso dispensado aos profissionais durante a posse do presidente Jair Bolsonaro, ocorrida ontem, 1º de janeiro, em Brasília. Os profissionais da imprensa foram obrigados a cumprir um horário injustificado, tendo de se apresentar para a cobertura às 7 horas, para uma solenidade marcada para o início da tarde. Jornalistas tiveram de se deslocar para os locais de cobertura em veículos disponibilizados pelo governo, não puderam circular livremente (alguns correspondentes estrangeiros consideram o confinamento obrigatório como cárcere privado), passaram por privação de água e ainda foram ameaçados, caso desrespeitassem as rígidas regras de comportamento anunciadas. Quem não respeitasse as restrições de acesso ou mesmo fizesse movimentos bruscos (aviso especial aos repórteres fotográficos, que não deveriam erguer suas câmaras), poderia se tornar alvo dos atiradores de elite.
Na história recente do país, nunca houve restrições ao trabalho dos jornalistas para a cobertura das posses dos presidentes eleitos pelo povo brasileiro. Aos profissionais credenciados foi anunciado, por uma assessora do novo governo, que se tratava de “uma posse diferenciada e todos têm que entender isso”. A diferença, entretanto, foi uma demonstração inequívoca de que o novo governo acha-se no direito de desrespeitar uma das regras essenciais das democracias: a liberdade de imprensa. A segurança não pode ser justificativa para medidas autoritárias e abusivas, que visam, na verdade, dificultar o trabalho dos jornalistas e restringir a produção e a livre circulação da informação. O verdadeiro aparato de guerra montado para a posse revela que a tática de Bolsonaro de espalhar o medo, utilizada na campanha eleitoral, será mantida no governo.
A FENAJ soma-se ao Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que já havia denunciado as medidas restritivas ao trabalho da imprensa quando do credenciamento dos profissionais, e exige das autoridades do novo governo uma mudança no tratamento dispensado aos jornalistas no exercício da profissão. A Federação também cobra das empresas de comunicação postura mais firme na defesa de seus profissionais e da liberdade de imprensa. A maioria das empresas nem mesmo denunciou as medidas restritivas imposta pelo governo e o tratamento desrespeitoso dispensado aos jornalistas.
Não podemos naturalizar medidas antidemocráticas, para que não se tornem a regra. A democracia exige vigilância e estaremos vigilantes.
Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ.
Brasília, 2 de janeiro de 2019.