Estamos, finalmente, nos últimos dias de 2020, um ano literalmente atípico. Iniciamos o ano com a esperança de nos livrarmos das mazelas de anos anteriores. Foram anos bem difíceis, continua sendo. Mal sabíamos que sentiríamos alguma saudade do anos passados.
Ouvimos rumores de uma nova doença. Lá na China. Uma gripizinha, como um tal chefe de estado apelidou.
Um vírus, que pode levar a morte. (ah, mais é lá na China. Do outro lado do mundo. Muito longe), brincamos, fizemos meme, fantasia de carnaval. (O que é estarrecedor, mesmo que longe, pessoas estavam morrendo, e continuam).
Logo no início do mês de março, aqui no Brasil, foi então confirmado o primeiro caso da doença parece ter acendido um sinal de alerta, que de maneira comunitária foi se multiplicando, e o sistema de saúde que já não era suficiente, pediu socorro. Atualmente está na UTI.
Recebemos orientações para o uso de máscara, higienização constante das mãos, isolamento social, lockdown, distanciamento social, na tentativa de conter a disseminação e não causar um colapso na rede de saúde, para dar tempo de fazer hospitais de campanha e abrir novos leitos.
Parte da população, a privilegiada, diga-se de passagem, que, iniciou uma corrida ensandecida por máscaras, litros de álcool gel, luvas. Encheu supermercados, para fazer estoque de comida, itens de higiene, comprar todos os papéis higiênicos possíveis.
Essa mesma parte da população, não abriu mão de seus privilégios, mesmo em uma pandemia mundial, mantiveram a cadeia produtiva à lhe servir. Não só simbólico mas, escancarador.
O primeiro caso da doença aqui no Brasil, foi confirmado e a paciente era uma empregada doméstica, que foi contaminada depois de ter tido contato com seus patrões. E a parte da população desprovida de quase tudo, ficou a contar com a sorte.
O mal tem nome, Coronavírus, Covid 19, pandemia. Palavras que causavam estranheza inicialmente, assim como a própria doença. Tudo muito novo, ainda desconhecido. Muitas dúvidas, muitos estudos. 2020 o ano da ciência, da resistência, resiliência.
Assistimos notícias e mais notícias sobre o aumento de casos de pessoas contaminadas, de mortes, a velocidade do contágio, a chegada da doença em quase todo planeta. Atravessando continentes, chegando nos bairros, favelas, comunidades indígenas, população vulnerável. Um mal invisível.
Soubemos dos sintomas, as internações, complicações, as mortes, essas são muitas. Até hoje e só cresce. Qualquer morte, já é morte, e isso já é muito.
“Fique em casa”, foi a campanha de conscientização, mas quem de fato podia ficar em casa?
As ações governamentais foram uma lástima, ou melhor a inércia. Começando pela postura do presidente que minimiza, até hoje, os danos causados pela doença, incentiva aglomerações, propaga desinformação, zomba das mortes de milhares de seres humanos e agora, politiza a vacina.
Alguns cidadãos até hoje, não receberam uma parcela, sequer, do auxílio emergencial. A pressão para o relaxamento das medidas restritivas e reabertura do comércio e atividades não essenciais foi tanta que hoje estamos vivendo a segunda onda, como se não existisse mais perigo. Será que realmente passamos pela primeira onda?
As campanhas eleitorais estaduais também contribuíram para promover aglomerações desnecessárias. A população lota bares, praias, shoppings.
Mas, a esperança é que, em 2021 como um passe de mágica, uma força misteriosa, mística, ao romper da meia noite, em meio aos “festejos clandestinos” (como houve, de conhecimento público em pleno lockdown), o vírus sumirá da face da terra.
“Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, com habilidade pra dizer mais sim que não. Hoje o tempo voa, amor, escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir, não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir”, Lulu Santos. Trecho da música Tempos Modernos.
A culpa de tudo isso é de 2020. Chega 2021! Contém boa dose de ironia.
*Este texto trata-se de uma opinião do autor.