Segunda-feira de carnaval é dia do Bloco do Nada, que surgiu em 2003, passar por onde nada passa no centro da cidade do Recife. Em sua 18ª edição que aconteceu no Pátio de Santa Cruz, Bairro da Boa Vista, o bloco carnavalesco e filosófico contou com a presença de foliões diversos e de múltiplas idades, abrilhantando a tarde do dia 24 de fevereiro.
Antes do seu grande dia pelas ruas, o Bloco do Nada realiza dois importantes encontros, um deles é a sua prévia: Nada em Folia, e o outro é o Sarau Filosófico do Bloco do Nada, sempre voltado para temas relevantes e atuais na sociedade. Ao longo dos seus 18 carnavais, o Bloco do Nada já marca 15 saraus, com início em 2005, e 16 prévias, realizadas a partir de 2006.
Seu idealizador, Gerson Flávio, 62 anos, falou sobre a prévia deste ano, que aconteceu no início de janeiro no Bairro do Torreão, Zona Norte do Recife. “A prévia teve sete atrações. Foi muito movimentada, um público muito legal! A gente não tá preocupado com a quantidade, mas com a qualidade, tendo em vista que o Bloco do Nada é um bloco de rua, sempre em crescimento.”
O Bloco do Nada tem em sua proposta abrir espaço de reflexão sobre assuntos que são fomentados em seu Sarau Filosófico, a última edição foi no Armazém do Campo em 5 de fevereiro.”É um bloco que tem uma proposta lúdico-filosófica, pois não conheço outro que realize um sarau filosófico. E este ano discutimos sobre o respeito às mulheres e a sua saúde, sobretudo da mulher negra, bem como a questão do racismo”, enfatizou Gerson.
Há quem diga que o carnaval só tem sentido no meio do Nada, participando com o Nada antes e durante o momento de festa, pois o bloco não é apenas folia. Ele visa promover discussões, questionamentos e debates: “a proposta é justamente essa, de brincar o carnaval sem perder de vista o contexto político que estamos vivendo, de uma maneira não alienada”, disse Gerson.
Todos os anos, o percurso feito pelo bloco é contrário aos principais pontos das atrações do centro da cidade do Recife. É pelas ruas onde nada passa que o Bloco do Nada costuma passar. A concentração do bloco, na segunda-feira de carnaval, é chamada de “Performática Psicodélica”, em que a ala dos músicos e compositores se apresenta.
Mufula, 67 anos, um dos principais nomes da ala dos compositores, falou um pouco de sua experiência na trajetória com o Nada: “eu costumo dizer que a gente vai pro meio do nada. É uma coisa muito rica pra mim. Foi quando eu comecei a compor, a ter ideia de música. Pois Gerson fazia letras e eu inventava uma música, como o ‘hino do nada’, por exemplo”.
Por volta das 18h deu-se início ao cortejo do Bloco do Nada com a chegada da orquestra Botelho Frevo e Folia. Karine Raquel, esposa e companheira há 41 anos de Gerson Flávio, destacou que a grande motivação para a saída do bloco é a alegria dos que se fazem presentes: “o que nos motiva a botar o nosso bloco na rua é a alegria dos foliões, tão semelhantes aos índios que se caracterizam em momentos de celebração”.
Graças a contribuição das pessoas que, cada vez mais, se envolvem e se apaixonam pelo bloco, torna-se possível a oportunidade de promover momentos contagiantes de folia, mantendo em vista o pensamento crítico. “Pense num bloco arretado!”
Confira uma das músicas de Mufula à filosofia do “Nada”: youtube.com/watch?v=QXR4KuuC3L8.
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