O Brasil de hoje está bem próximo do Brasil de 1977, quando foi criado o hino da Lei da Anistia “O bêbado e o equilibrista”. A criação de João Bosco e Aldir Blanc canta a luta do Brasil de uma ditadura já fraca, mas que ainda chorava pelos seus filhos exilados.
Essa letra ganhou uma repercussão enorme na época, na voz da maior interprete que esse Brasil já viu, Elis Regina, que lançou a música no LP ” Essa Mulher” em 79.
Elis, que ganhou a música, pois foi “enterrada” na época pelo cartunista do jornal ” O Pasquim” chamado Henfil, porque por medo, devido a certos depoimentos que ela deu sobre a ditadura, teve que participar das olimpíadas do exercito que foi televisionada e causou muita revolta em seus fãs.
O hino na voz de Elis foi o que eles precisavam pra lutar, pois “Agora temos um hino, e que tem um hino faz uma revolução”, disse Henfil ao seu irmão Betinho, que estava exilado pela ditadura, pelo telefone.
Infelizmente, o Brasil voltou a 79. A ditadura hoje está camuflada com a expressão “pessoas de bem”. Nosso sistema de saúde e nossa educação estão partindo “num rabo de foguete”. Nossos jornalistas estão apanhando e nossos médicos sendo xingados e morrendo na linha de frente por conta de uma pandemia. Tudo isso pra defender o indefensável. Estamos na corda bamba de sombrinha e máscara.
Nossa “Pátria Mãe Gentil” hoje não chora só por “Marias e Clarices”, mas também por Agathas, Eloahs e Marielles. Foi tanta gente que partiu….
Nossa dor com o “E daí?” pelas quase 5 mil mortes por Covid19, dito pelo senhor que deveria defender a nossa pátria amada, é “pungente”. Mas o que mais me conforta é que a mesma esperança equilibrista de 79 pulsa no peito de muitos que sabem que o show de todo artista tem que continuar, mesmo com a classe artística e a cultura “chupando manchas torturadas”.
Agora, Aldir morreu vítima da Covid19. Um dos autores do maior hino da ditadura, morreu na época em que sua música esta descrevendo o novo Brasil. Tristemente irônico.