Depois de 40 dias de reclusão sabática, Jair Bolsonaro voltou à entrada do Palácio da Alvorada para rever a turma do oba-oba à personalidade confusa do “mito” que ele construiu ao longo dos últimos quatro anos. De hábito, ele se apresentava quase diariamente no local próximo à entrada do palácio quando saía ou voltava do Planalto, e exercitava seu histrionismo barato diante de fãs semelhantes aos que agora acampam à entrada de quartéis exigindo intervenção militar antes que o mundo acabe ou o Brasil seja tomado pelo comunismo internacional.
Neste breve retorno ao picadeiro favorito, o presidente foi menos incisivo, um pouco dúbio, mas sem deixar de afirmar que aqueles apoiadores são responsáveis pelo que as forças armadas farão; ou seja, eles é que dirão quando o golpe será dado contra o presidente Lula e a democracia. A retomada do contato com seus golpistas se dá a exatos dois dias da diplomação de Lula e Alckmin pelo TSE, último ato do rito de passagem e que reconhece oficialmente a vitória nas urnas, negada por Bolsonaro desde o princípio. Esta pode ser a senha, à maneira norte-americana de Donald Trump e seus miquinhos amestrados ao invadir o Congresso nos primeiros dias de 2021.
“Hoje estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada, um destino que o povo tem que tomar. Quem decide o meu futuro, para onde eu vou são vocês. Quem decide para onde vai (sic) as Forças Armadas são vocês. Quem decide para onde vai (sic) a Câmara e o Senado são vocês também”, disse Bolsonaro aos apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada. Afirmou ainda que as Forças Armadas devem lealdade ao “nosso povo” e respeito à Constituição, que ele nunca saiu das “quatro linhas”, ressaltando que “tudo dará certo no momento oportuno”.
Para o presidente, “nada está perdido” e que é preciso fazer a coisa certa. E qual será a coisa certa? Com certeza não será a mesma coisa certa que pensam Rosa Weber, Alexandre de Morais, os demais ministros de tribunais superiores e todos os democratas brasileiros.