Disse Loïc Wacquant em seu livro As Prisões da Miséria: “… a insegurança criminal no Brasil tem a particularidade de não ser atenuada, mas nitidamente agravada pela intervenção das forças da ordem.” (WACQUANT, 2001).
No centro da cidade, principalmente, trabalhador@s são agredid@s, pres@s, desrespeitad@s enquanto trabalhador@s, enquanto cidad@s, enquanto seres humanos. Nas favelas “pacificadas”, trabalhador@s tem seus momentos de lazer e descanso interrompidos pela autoridade de “uma tal” Resolução 013. Nas favelas não “pacificadas” somos constantemente atacad@s pela presença terrível de uma máquina de matar.
Manguinhos tem estado diariamente na pauta dos grandes jornais, seja pelas incursões policiais que assassinam trabalhadores e não trabalhadores (como se fizesse muita diferença considerando a desigualdade que nos assola), seja pela cracolândia onde jovens perdem o sentido do que é estar vivo.
Há algumas semanas tenho visto aquela maldita máquina parada em esquinas próximas à favela, a sensação é terrível, de Insegurança, indignação, revolta. Provavelmente algum@s se perguntarão: “revolta? Tá devendo?”. Tranquilamente, respondo: “não, mas este Estado me deve”. Deve respeito, segurança, e liberdade, a mim e a tod@s nessa cidade. Aquel@ que se sente segur@ perto de uma máquina mortífera não pode estar bem da cabeça, ou vive no mundo de Cabral e seus comparsas: andando pela zona sul em seus carros blindados e acompanhados por seguranças, violando o direito de ir e vir alheio.
Ontem a noite @s morador@s de Manguinhos que se sentiram a vontade para caminhar pelas ruas da favela onde vivem acabaram mais uma vez desesperad@s. Mais uma vez a assombração se mostra na parte escura da favela. Que tipo de ação se espera de uma arma como essa no meio da noite em local dito “de risco”? Segurança? Sinto confirmar seu pensamento caro leitor, mas não. Como moradora desse lugar onde as pessoas tentam sobreviver apesar de tudo, apesar da “violência”, apesar do esgoto que volta todos os dias para suas casas (inclusive quando não chove), onde as pessoas sorriem e choram com as “coisas da vida”, aqui onde o Estado só chega com sua mão pesada, seja pela polícia ou por suas políticas que de públicas só tem o nome, o capitão do mato não chega pra aprisionar somente, ele quer mais, quer eliminar a nossa raça.