Retomando o assunto da semana passada, não podemos esquecer da 10ª Edição do Encontro de Cinema Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe, que aconteceu no Cine Odeon, Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF) e MAR – Museu de Arte do Rio. Foi uma programação de primeira, repleta de trabalhos maravilhosos dessa nova geração de jovens cineastas negras e negros – muitos deles, moradores de favelas e periferias. Vários desses filmes contavam histórias do cotidiano desses lugares.
Fosse ficção ou documentários, todos os filmes que assisti foram de qualidade inquestionável. Curtas como Fé Meninas, do Coletivo Mulheres de Pedra, ou Tia Ciata, das diretoras Mariana Campos e Raquel Beatriz, deveriam ser exibidos em escolas e centros comunitários. São histórias que falam da gente. Outro filme que recomendo é o primeiro episódio da série Lapa 24 Horas, de Paulinho Sacramento, que aborda de forma bem humorada a vida noturna efervescente do bairro mais boêmio da Cidade Maravilhosa.
A temática feminista foi destaque na mostra também. Vi e recomendo Negra Sou, da jovem Ana Beatriz Sacramento, que entrevistou mulheres negras de todas as idades e ouviu relatos de dificuldades e desafios. Vi também o ótimo filme pernambucano Mayra Está Bem, cujo tema é a dificuldade das mulheres negras conseguirem relacionamentos amorosos formais. Aliás, a solidão da mulher negra foi um tema bastante abordado nos filmes do encontro.
A produção de que mais gostei foi o documentário do premiado diretor Emílio Rodrigues, Deixa na Régua. O dia a dia movimentado das barbearias da Zona Norte do Rio é retratado com leveza e graça a partir de depoimentos dos jovens que as frequentam. Nas mãos dos babeiros Belo, Deivão e Edi, eles mostram como esses estabelecimentos se tornam um espaço de sociabilidade e de debate sobre diversos assuntos.
Seria muito interessante que mais festivais como esse acontecessem na cidade. E não só festival de cinema. Temos condições de fazer festivais de música negra, artes cênicas negra, dança negra e outras linguagens. É importante que o negro e o favelado saibam que podem, sim, fazer a diferença. Que eles se vejam não só nas telas, mas como realizadores também.