Se existe um grande injustiçado que merece estátua em praça pública no país é Aécio Neves, o grande responsável pelo golpe silencioso que tirou o país da democracia em 2016. Derrotado na reeleição de Dilma Rousseff no final de 2014, ele fez um juramento e empenhou todas as suas forças para depor a presidente por vias aparentemente legais, punindo “pedaladas fiscais” que o país jamais entendeu o que fossem, mas que os economistas e políticos diziam ser um hábito na vida nacional.
Tivesse a capacidade de prever o futuro imediato, Aécio provavelmente teria feito outra escolha, porque era a estrela mais brilhante na constelação tucana naquele momento, como comprova sua escolha para disputar a presidência da república, e hoje não é nada, nem mesmo na política mineira que já foi a grande escola nacional de astúcia e malandragem da qual seu tio-avô Tancredo Neves foi o último professor.
Aliás, Aécio Neves foi criado e cevado à sombra de Tancredo desde tenra idade, espécie de “enfant gâté” dos Neves e, por extensão lógica, dos mineiros em geral. Era de ser ver o gosto com que o mundo social e político de Minas Gerais curtir à distância as aventuras do “Belo Aécio” pelas noites de Ipanema e Leblon, maldosamente identificados como as mais badaladas praias de Juiz de Fora. Aécio sempre esteve na crônica mundana da Zona Sul carioca pelo envolvimento com belas mulheres, festas, política e ligações com a química fina boliviana. Grande figura sempre influente.
Assim, de degrau em degrau, Aécio galgou a escada ao sucesso político, como deputado, governador, senador, presidente da Câmara dos Deputados e do Partido da Social Democracia Brasileira por dois períodos, a partir de 2013, até alcançar a indicação à presidência da república. Aí deu-se o tombo fenomenal, a queda no abismo de onde emergem seus gemidos de dor e decepção entre fungadas sentidas. Por falar nisso, a história nos deve esclarecimentos sobre o aeroporto da cidade de Cláudio, no “hinterland” das Alterosas.
Por que lembrar tão nefasta pessoa? perguntarão, e esclareço – fulminante qual Richarlison na Sérvia – que vivemos tempos de tenebrosas figuras no Brasil, a começar pelo próprio presidente da república (eleito há quatro anos também com o concurso de Aécio Neves) e seus generais de medalhas por serviços prestados. Afinal, se hoje estamos no centro das atenções e se o retorno de Lula representa a volta também do país ao cenário do mundo civilizado e culto, da Terra redonda e do heliocentrismo de Copérnico, devemos em boa parte a essas lamentáveis personagens políticas.
A propósito, você tem notícia de Aécio Neves desde a queda da Dilma?