O cotidiano de uma mulher

Sonia Guida, 69 anos, é agente comunitária, mãe de 3 filhos e moradora da Comunidade do Andaraí. Ela relata sua trajetória social, ao fazer visita domiciliar, no meio de mulheres que vivem em condições precárias e com dignidade violada à espera de informações sobre seus direitos. Isso acontece devido à falta de conhecimento. Em seu caminho, ela se deparou com uma empregada doméstica, que foi despedida sem receber seus devidos direitos. Então, a quem recorrer? Isso acontece com muitas mulheres carentes de informação.

Em 1994, Sonia foi dinamizadora, trabalhando com crianças de 7 a 14 anos, reforço escolar, danças, atividades esportivas e trabalho com a terceira idade. Formou jovens que atuavam em teatro e não esquece o que aprenderam com essa oportunidade.

O grande problema hoje, segundo Sonia Guida, “é não ter verba para dar continuidade a esses trabalhos. Não ter lugar dentro da comunidade para desenvolver projetos sociais com nossos jovens a um futuro promissor”, conta.

As mulheres têm dificuldade em tornar seus filhos conscientes de seus direitos enquanto cidadãos  em uma comunidade. Quando as mães saem para trabalhar, elas têm o receio de terem seus filhos confundidos na hora de uma abordagem pela discriminação racial e se depararem com conflitos perdendo filhos por balas perdidas. Elas sentem a ausência de não estar em casa para lembrar seus filhos de não esquecerem de levar a identidade , e com isso, o dia a dia se torna preocupante até a volta ao lar.

O que falta às comunidades no momento de uma intervenção é o direito de ir e vir. Garantir às mulheres, como Sonia Guida, o direito de ser mãe, trabalhadora e, acima de tudo, ser mulher com seus direitos respeitados.

Publicado na edição de março de 2018 no jornal A Voz da Favela.