Bolsonaro, doravante chamado Democrata, ergueu a mão e mandou os repórteres calarem a boca à saída do Palácio da Alvorada na manhã de hoje, 5, ao ser questionado sobre a troca no comando da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Negou interferência na saída de Carlos Henrique Oliveira sob o sólido argumento de que ele assumirá a diretoria executiva da PF em Brasília. Caiu para cima, portanto.
No jargão policial militar característico, o Democrata que manda calar a boca de quem pergunta lembrou que Oliveira será “o 02”, o que, traduzido para o seu núcleo familiar, corresponde ao Eduardo, atrás apenas do 01, o Flávio cujas ligações com o Escritório da Morte da milícia carioca são apuradas pela Polícia Federal. Investigações estas que são a raiz da saída do ex-diretor Maurício Valeixo e do ministro Sérgio Moro do governo. Eles sofriam pressão do presidente para mudar o homem da PF no Rio desde agosto do ano passado.
O Democrata que cala a boca de repórteres é o mesmo que ainda ontem atribuiu as agressões aos fotojornalistas Orlando Brito e Dida Sampaio na manifestação em frente ao palácio do governo a “alguns possíveis infiltrados na pacífica manifestação” pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal domingo passado.
Infiltração de quem, numa manifestação apoiada pelas forças da PM e do próprio Exército? O presidente não disse quem eram os infiltrados, mas deixou implícito o caráter esquerdista deles, impunes e incógnitos provocadores em meio aos “pacíficos” bolsonaristas. Haverá ainda quem acredite? Alguém acha que o empresário Luciano Hang, da Havan, não forneceu as barracas idênticas montadas na grama de Brasília e as bandeiras brasileiras todas do mesmo tamanho, para abrilhantar o apoio ao governo?
Para ministros do Supremo, a presença do Democrata no ato antidemocrático do domingo foi uma senha para bolsonaristas de que é ele quem manda e que não admitiria uma segunda anulação de sua nomeação.
Mas os mesmos ministros dizem que não haveria segunda anulação, já que foi aberta investigação para apurar as acusações de Moro que envolviam Ramagem como o escolhido por ele para ter mais controle sobre a Polícia Federal. Protocolo similar foi seguido pela Advocacia Geral da União ao não recorrer da suspensão pelo Supremo, já que o próprio Bolsonaro anulou a portaria de nomeação, cessando assim o motivo do recurso. Firulas jurídico-administrativas que o Democrata tenta assimilar muito a contragosto, porque, por sua vontade, calava todo mundo e seguia seu império de “gripezinhas” e fake news.