Esta semana foi curta por conta do feriado na terça feira (01/05/2012), mas foi bem produtiva do ponto de vista da expansão da minha rede de contatos e das audições que pude participar sobre o tema da favela.
Vou apresentar meu ponto de vista sobre a leitura que tenho deste momento emblemático pelo qual as favelas pacificadas estão passando, no que diz respeito à presença das Unidades de Polícia de Pacificação, pois é um novo ator social no sistema social da favela, o que de fato muda quase que todo um conjunto de relações e práticas no interior das favelas com UPP. A ideia que se tinha, ou ainda tem, é que a favela é um lugar de perigo e violência, só! Pergunto: como as pessoas viviam nas favelas antes da UPP? E como vivem as pessoas nas favelas sem UPP?
A presença permanente da polícia nas favelas tem proporcionado na maioria delas um ambiente de maior segurança para os moradores e para o entorno. Desta forma, o princípio fundador de uma sociedade democrática, que é a garantia do direito civil de qualquer cidadão/cidadã, fica assegurado por um dos agentes públicos responsável de zelar para que este direito seja exercido também pelos moradores das favelas, sem que sua dignidade humana seja usurpada por qualquer tipo de poder, inclusive do Estado.
Eu sempre trabalhei em favelas, e também morei em uma favela durante 38 anos. Nunca vi tanta gente deslumbrada e eufórica com a possibilidade de entrar numa favela. Conheci um “sujeito” que tem andado por algumas favelas e se misturado com tudo e todos querendo garantir sua fatia nesta “Nova Terra”; seu nome é mercado. Este “sujeito” que se apresenta de várias formas e com várias caras, inclusive a de responsabilidade social, está vendo nas favelas da Zona Sul, principalmente, e no Complexo do Alemão uma grande oportunidade de expandir seus negócios. Nada demais nesta atitude para um sujeito que nasceu para lucrar em todas as oportunidades que encontrar, mas um pouco de respeito e ética não faz mal para ninguém.
Minha pergunta é simples: só agora que o mercado e algumas instituições descobriram que as favelas existem? Que lá nas favelas tem gente que fala, pensa, sente dor, é alegre e criativo, faz cultura e amor, tem vontade própria, sonha e que ser feliz… Ou o interesse pela Nova Classe Média e sua capacidade de consumir de tudo, está fazendo com que muitos abandonem seus pré-conceitos e se joguem nas favelas como portugueses e espanhóis fizeram ao final do século XV e início do XVI? Por este caminho do descobrimento já conhecemos os resultados: a Metrópole leva tudo e a Colônia fica com as sobras, quando sobra!
Esta semana conversando com um grupo de empreendedores de uma das favelas pacificadas eles me disseram: “aqui ficamos sozinhos durante anos, resistindo a tudo e a todos; pagamos um preço alto por não termos acesso aos nossos direitos. Agora que começa a melhorar a comunidade vem um monte de gente de fora para concorrer com a gente…”
É por aí que as coisas têm acontecido em algumas favelas. Numa reportagem de TV, ouvi um representante de um banco dizendo que ele está apresentando à comunidade para os empresários de fora que querem investir na favela. Pergunto: quem deu autoridade a este agente financeiro para negociar a entrada de empresários na favela? Onde estão às lideranças históricas desta favela que não se manifestam não se posicionam? Entregar para um agente financeiro a negociação do mercado potencial das favelas! Gente isso vai acabar com os empreendedores locais!
A história serve para nos ensinar a errar menos. Neste sentido proponho refletirmos sobre algumas questões básicas:
Favela não é um mercado consumidor; favela é um lugar com identidade, cultura e de gente muito boa. A favela é POP, é Cult e um organismo vivo;
O morador de favela não é um pobre coitado, ignorante e incapaz. A favela é lugar de gente criativa, trabalhadora, empreendedora e inteligente. O favelado é gente;
O empreendedor da favela é alguém muito capaz e que sabe fazer muitas coisas bacanas;
As favelas precisam de políticas públicas diferenciadas para compensar as décadas de quase total abandono;
As favelas precisam de parceiros éticos que estejam interessados no seu desenvolvimento como um todo, não apenas de mercado;
As favelas precisam de respeito à sua estética e a sua cultura, a sua forma autêntica de existir.
Por fim, as favelas não são um novo eldorado para serem exploradas até a última gota, mas são lugares para serem respeitados por todos nós.