“O inferno vai se repetir a cada morte de um policial. Gostaria do mesmo empenho (digo, empenho, e não arbitrariedades!) na morte (“abate”) de civis, principalmente nos moradores suburbanos ou de comunidades”. Foi um comentário de uma postagem no Facebook, após operações realizadas nas favelas do Rio, após a morte do Soldado Daniel Henrique Mariotti, em tentativa de assalto na Linha Amarela.
Em primeiro lugar, leva à reflexão da arbitrariedade, porque a polícia não tinha informações sobre o suspeito. Em segundo, a seletividade das favelas que amanheceram cinzas, repletas de policiais.
No país que ostenta a liderança no ranking de mortes por arma de fogo, o Governador eleito, Wilson Witzel, após a morte do soldado disse que “quem estiver portando fuzil será abatido”, mesmo que o garçom Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, 26 anos, morador da favela Chapéu Mangueira, tenha sido assassinado em Setembro de 2018, quando esperava a mulher e os filhos com um guarda-chuva, erroneamente confundido com um fuzil.
O discurso do Governador vai além do “risco iminente”, porque ao policial caberá também agir sobre o estereótipo, cor da pele, localidade etc.
O crime organizado todo ano vence a guerra às drogas, porque só é combatido nas favelas. Mais violência só aumentaria o cifrão que enriquece a segurança privada e a venda de armas de fogo.
Witzel ainda falou sobre a autorização aos policiais para matar, que estariam agindo em legítima defesa, que não cabe ao Governador, mas ao juiz ou júri determinar se foi homicídio ou legítima defesa.
Somos o 79° país no índice de desenvolvimento humano, o 9° país mais desigual do mundo. Mais de 5 mil mortos pela polícia por ano, contabilizando vergonhosamente mais de 60 mil mortes por ano no país paradisíaco.
Com o aumento da letalidade policial, também aumentará o número de policiais mortos. Quando se fala sobre segurança pública no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, eliminamos o principal valor, a vida. É fundamental a preservação das vidas, porque não cabe a polícia determinar quem é bom ou mau, mas a justiça. O sistema deveria ressocializar o indivíduo para que ele possa contribuir para a melhoria da sociedade. Preservar a vida para construir um país mais justo.
*Matéria do jornal A voz da favela edição de fevereiro de 2019