Por Edith Medeiros e Jenifer Silva
Era noite de terça-feira, 10, por volta das 23 h. Uma blitz não convencional abordou uma van para inspecionar os usuários do veículo na Passarela 7 da Avenida Brasil, próxima à entrada da Maré. O que se viu a seguir foi mais uma revista policial abusiva. O perfil “suspeito” era o de sempre: cinco meninos, negros, pobres e moradores de favela, com os critérios perfeitos para que homens de farda exercessem práticas preconceituosas e autoritária.
“É comum esse tipo de situação ocorrer. Comigo mesmo já aconteceu”, contou o motorista de van que preferiu não se identificar, mostrando o ferimento que ganhou na mão em uma dessas revistas constantes. Naquele dia, os PMs pararam a van e todos desceram. Porém, os cinco jovens citados foram retirados à parte. Quem utiliza o transporte sabe que aquele ocorrido não foi mais violento apenas porque havia muitas testemunhas em volta. É uma vivência diária.
É sabido que ações como essas acontecem constantemente. Homens íntegros sofrem com a estereotipação de sua aparência e se veem vítimas de ações ilegais e repressivas. É necessário falar cada vez mais da arbitrariedade desses atos e da vulnerabilidade dos moradores de favela quanto a essas ações. Muitas vezes, essas pessoas não conhecem seus direitos ou são coagidos a se calar, acabando por se submetendo a repressão e humilhações mesmo quando se trata de um cidadão íntegro. A figura policial é importante para sociedade, desde que exerça sua função corretamente: proteger a sociedade e, consequentemente, os cidadãos – não colocar medo neles.
É essencial a discussão sobre a função da sociedade, comunicadores, policiais e os de pessoas com o dito perfil “suspeito padrão” – pretos, pobres e favelados – frente esses acontecimentos, pois sabe-se que não é de hoje que isso afetando e, muitas vezes, dizimando nossa população. O genocídio, a guerra física e psicológica, sempre existiu para essas pessoas. E como já se sabe, a população preta é a que mais morre atualmente.
Cabe à sociedade ser mais ousada e expor essas situações. Cabe aos policiais rever seus conceitos éticos e a funcionalidade de seus serviços diante dela. Cabe ao comunicador esclarecer de modo expositivo os fatos ocorridos e problematizá-los com as pessoas a seu redor dele. A linguagem e a forma como isso repercute podem fazer com que esses acontecimentos sejam vistos de outra forma.