Palavras são a matéria-prima para tudo com o que trabalho. Mas, como qualquer matéria-prima, chega o momento em que elas ficam escassas. Falar sobre a violência na cidade do Rio de Janeiro é algo que faz com que as palavras se esgotem – cansa. Esse cansaço é parte do projeto de poder imposto, institucionalizado e invisível. Facilmente ficamos apáticos, contando as horas para aquele tal meteoro bater de frente com esse planeta.
Maria Eduarda estava dentro da escola, em Acari, quando foi atingida por um tiro de fuzil. Escola, aquele local onde os pais preferem que nós estejamos porque a rua é perigosa. Acari, aquele bairro da Zona Norte, uma das regiões mais degradas da cidade, pro qual muita gente faz cara de nojo quando ouve falar, foi o território do ocorrido. Quanto tempo será que falta pro meteoro chegar?
O mais comum é ouvir: “Ah, mas escola em Acari… Você queria o quê?”. Pior que isso, só ver a foto de uma outra menina segurando um fuzil sob a alegação de que era Maria Eduarda e que ela tinha envolvimento com o tráfico. Direito a vida é o que mesmo? Alguém aí pensou também na menina, que não era a Maria Eduarda, sendo exposta no seu grupo de família do WhatsApp? Quando é que vem aquele meteoro mesmo, hein?
Hossana de Oliveira Sessassim, 13 anos, levou 2 tiros quando estava na rua, também em Acari. Isso aconteceu cinco dias após a morte de Maria Eduarda. Uma informação importante: além de estarem no mesmo bairro, as meninas também eram pretas. Mas essa coisa de racismo, projeto de extermínio é tudo coisa da nossa cabeça, né? Até porque é o próprio preto que é racista, não é? Gente, mas cadê esse meteoro?
Êta, mundo bom de acabar… Já inventaram algum aplicativo, tipo Uber, pra chamar o meteoro mais rápido?