“Não é só um projeto de segurança, é uma política de Estado, de valorização da vida e de geração de esperança para o povo carioca e fluminense.”
José Mariano Beltrame, ex-secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro
Há exatos oito anos, o governo do Estado do Rio de Janeiro lançava o plano mais audacioso de segurança do país: a chamada UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O primeiro morro do Rio a receber o projeto foi o Santa Marta, em Botafogo. Dava-se aí o início de um processo que teve amplo apoio da imprensa e de grande parte da opinião pública. Com a confirmação de grandes eventos internacionais na cidade (Copa do Mundo, Jornada Mundial da Juventude e Jogos Olímpicos), a fórmula parecia perfeita para finalmente deixar a cidade segura.
O então governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral prometeu que o Estado se faria presente não só como agente de segurança. Dessa vez, Ele levaria às favelas ocupadas saneamento básico, saúde, educação e lazer. Porém nada disso aconteceu. Apenas a Polícia Militar se fez presente, e os moradores dessas comunidades, que no começo até apoiaram o projeto polêmico, descobriram aos poucos que mais uma vez foram enganados pelos governantes. Salvo raras exceções, as favelas ocupadas viraram verdadeiros guetos militarizados.
Nenhum projeto social, educativo ou cultural foi implantado nas áreas ocupadas pelo Estado. Muito pelo ao contrário. Nenhuma escola ou centro cultural foi criado nessas áreas, muito menos creches ou postos de saúde. Em vez de saneamento básico e mais dignidade aos moradores, o governo preferiu instalar teleféricos, como se o único problema fosse a mobilidade urbana. A presença do Estado se dava somente pelas temidas forças policiais.
A PM extrapolou seu poder, passando a interferir diariamente no ritmo de vida dos moradores. Em muitas favelas, os comandantes das UPPs proibiram bailes funks e festas tradicionais da comunidade. Não foram raros os casos de festas particulares invadidas e violentamente encerradas por policiais. Se antes os moradores das comunidades então ocupadas temiam apenas o poder do tráfico, agora a Polícia Militar também levava o medo aos moradores. Casos clássicos como o de Amarildo, na Rocinha, do jovem Paulo Roberto (espancado até a morte), em Manguinhos, e do dançarino DG, no Cantagalo, minaram a confiança dos moradores no plano. Os projetos sociais, tão anunciados pelo governo, foram jogados para segundo plano, até serem finalmente abandonados. Se alguma vez houve certo respeito dos próprios traficantes pelas bases da UPP, hoje, o que vemos são ataques com tiros e bombas às unidades em favelas de todas regiões da cidade, além da volta da guerra entre quadrilhas rivais, que têm invadido as favelas ocupadas independentemente da presença das UPPs.
Pouco antes de pedir demissão, o ex-secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame afirmou na imprensa que a guerra às drogas era insana e perdida. A política de segurança do estado, porém, sempre foi a do confronto. É uma pena que o secretário tenha constatado essa realidade quase 10 anos após o início da implantação das UPPs. Se tivesse levado essa discussão para a sociedade, muitas vidas inocentes teriam sido poupadas.
Agora, o que será do programa sem a presença do pai do projeto? A conferir…