Ter a oportunidade para falar é de suma importância em qualquer posição social que ocupemos, principalmente quando se está na base da pirâmide das hierarquias de classes.
Mas quem pode falar? Onde falar? Por que falar? Quando falar? Do que falar? Essas são variáveis que nos indicam posições de poder dentro das estruturas dominantes.
Infelizmente, nem todas as pessoas têm tido essa oportunidade. Há de se concordar que o poder de fala sempre foi e ainda é uma ação colonizadora, vertical, opressora, ideológica e estruturante.
Talvez possamos pensar na ruptura desse sistema quando olhamos para a internet e vemos diversas maneiras de nos reinventarmos dentro de nossos contextos sociais específicos.
Em Sobral/Ce, o Movimento Social Fome já formou diversas frentes de enfrentamento a essa “cultura” de disseminação do pânico. Formado por moradores do bairro Terrenos Novos.
A iniciativa surge para alavancar as agências positivas de moradores daquele território, priorizando as sociabilidades, os fazeres da periferia, disseminando outras formas de comunicação em contraposição as narrativas sensacionalistas que estigmatizam e segregam os espaços e as pessoas da periferia.
Destaca-se a mais nova ferramenta de comunicação periférica criada pelo Movimento: O FOMEcast.
De acordo com um dos seus criadores, Renan Dias, “O FOMEcast é mais uma ferramenta de comunicação periférica voltada a produção de conteúdos libertários não violentos. A produção desses conteúdos leva em consideração a fluidez dos fazeres artísticos e culturais da juventude inserida nas periferias”.
Renan afirma que, “nossas propostas vão desde discutir uma macro estrutura político-social até mesmo a reflexão e ação das mudanças sociais onde estamos inseridos. O FOMEcast é a pulsação de nossos desejos frente a uma comunicação mais democrática e inclusiva dentro e fora da periferia”. (http://frutosderesistencia.blogspot.com/2021/04/fomecast-ep-01-comunicacao-comunitaria.html)
Furando a bolha
Cabe ressaltar que todas as pessoas têm suas agências e seus pontos de vista, não importa em que espaço elas vivam, o fato é que todos podem acionar seus agenciamentos, suas artes de fazer, de ser, etc. O problema é que nem sempre todas as pessoas têm as mesmas oportunidades de falar sobre seus contextos e suas realidades, assim como outras têm dentro dos meios de comunicação de massa.
As realidades ainda são mostradas de acordo com narrativas escusas, vistas a partir de um único ponto de vista, principalmente quando se trata de vivências periféricas, das minorias sociais.
Os blogs policiais, muito bem patrocinados, ‘cavucam’ desgraças, exibem rostos e situações trágicas, narram “histórias” que acabaram de ouvir através de boatos, disseminam o pânico moral sobre pessoas e lugares a partir do ponto de vista do “repórter”, contribuindo para a estigmatização ainda mais sedimentada sobre esses sujeitos e seus espaços.
Não se ver blog cobrindo ações solidárias nas periferias, nem tão pouco exibindo em suas pautas, talentos e eventos culturais da favela, não mostram as labutas diárias de pessoas que se reinventam todos os dias na busca pela sobrevivência.
Representatividade
Conforme Fran Nascimento, também engajada na criação desse podcast, “O Movimento Social FOME, ele surge nessa perspectiva, de apresentar uma organização popular que insira diretamente a força do povo nas ocupações do espaço público. […] E agora, no meio dessa pandemia, […] a gente tá meio que ingressando nessa ocupação desses espaços virtuais”. (FOMEcast).
Outro membro do Movimento que também ajuda na criação do podcast, é o jovem Nathan Mesquita, que avalia: “na construção, e na história do Movimento Social FOME, eu pude ter minha experiência aos dezesseis anos, embora tenha sido encontros esporádicos, eu pude perceber o significado da luta periférica e o sentido de classe. […] O Movimento é uma das células entre várias outras que fortalece com o povo periférico. Então, criar vínculos, diálogos e afetos, em composições de forças, é fundamental para os dias de hoje”. (FOMEcast).
Ainda na avaliação de Renan Dias, “O FOMEcast ele surge a partir dessa experiência que a gente tem dentro da periferia de tá produzindo conteúdo não violento prá fora da periferia. Tendo em vista que as grandes corporações midiáticas acabam construindo essa narrativa, essa criminalização do povo preto periférico”.
E nós, enquanto moradores da periferia usamos essas ferramentas como meio para que a gente possa tá transformando essa realidade que a gente tá vivendo. E o FOMEcast é mais um canal de comunicação, interação, formação de opiniões onde a gente pode expressar as nossas ideias, o que a periferia tem feito, tem vivenciado, […] trazendo essas novas narrativas”. (FOMEcast).
No primeiro episódio, o FOMEcast traz uma conversa com dois agentes periféricos de grande repercussão na cidade devido suas atuações enquanto artistas e comunicadores. Frank Soares, morador do bairro Vila União, comunicador, radialista com passagens pelas rádios comunitárias, e atualmente apresenta um programa na Web Rádio FOME, com um programa de rap nacional. Outro participante é Tiaguim Tavares, artista visual com destaque na arte do graffiti.
Vale lembrar que o Movimento Social Fome tem outras iniciativas dentro de algumas periferias da cidade de Sobra/Ce, algumas delas já reportada pela Agência de Notícias das Favelas como a Biblioteca Comunitária e a Biblioteca Ambulante.
Mas existem outras iniciativas de agenciamentos positivos nesses espaços, indo contra as narrativas sangrentas que criminalizam e reforçam estereótipos.
Você pode ouvir o FOMEcast através dos links abaixo:
- Spotify
https://open.spotify.com/show/1AqEaqZD3uL4OWVnpyWxqN
- RadioPublic
https://radiopublic.com/fomecast-6pZdzN
- Pocket Casts
- Encoberto
https://overcast.fm/itunes1518050144/fomecast
- Apple Podcasts
https://podcasts.apple.com/us/podcast/fomecast/id1518050144?uo=4
- Disjuntor
https://www.breaker.audio/fomecast-1
- Âncora
- Podcasts do Google
https://www.google.com/podcasts?feed=aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy8yMDJlM2Q3NC9wb2RjYXN0L3Jzcw=
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