Isolamento social nas favelas de Pernambuco
Foto: Reprodução/Prefeitura de Recife

Com aproximadamente três meses de quarentena em Pernambuco, é fácil você chegar nas ruas e encontrar uma parte da população indo ao trabalho, correndo atrás do mínimo de dinheiro possível, já que mais de 6,6 milhões de inscrições para o recebimento do auxílio emergencial foram rejeitadas, chegando a ser 27% dos cadastros. Muitos dos que tiveram o cadastro aprovado ainda não receberam a quantia.

Em época de isolamento social devido a pandemia do novo coronavírus, não são todos que têm o privilégio de ficar em casa; empregados que não se enquadram nos serviços essenciais estão precisando sair do distanciamento social, pois o dinheiro está em falta. O auxílio emergencial destinado pelo Governo Federal para trabalhadores informais, não está sendo suficiente para alguns brasileiros.

Segundo a pesquisa feita em março pelo Instituto Locomotiva/ Data Favela, 70% dos moradores das favelas tiveram sua renda diminuída por causa da pandemia do coronavírus, e em Pernambuco, 10% da população vivem nas periferias.

A grande preocupação é que são essas pessoas as mais necessitadas em sair de casa, pois o Governo Estadual não implementou uma ação efetiva para suprir a falta de recursos básicos da população que vive nas periferias. “Eu trabalhava em 4 casas durante a semana quando estávamos sem a pandemia, mas depois que começou fui dispensada de 3. Os meus patrões que me dispensaram me pagam o salário, mas minha família têm 6 pessoas, o que faz com que as contas fiquem altas. No fim do último mês [maio] não sobrou nada”, conta Marcilene Silva, diarista de 46 anos e moradora do Monte, em Olinda. 

Não poder ficar em isolamento social é uma realidade para várias pessoas, como os que foram liberados do trabalho e ganham a quantia anterior ao isolamento, e os microempresários no geral que não estão gerando renda. “Moro com meus pais que estão no grupo de risco, mas mesmo assim eu preciso sair de casa para conseguir a comida do dia e pagar as contas. Como eles estão desempregados, quem sempre trouxe o dinheiro fui eu através das vendas da barraca que tenho. Hoje, vendo as mercadorias nas ruas de Recife que estão movimentadas, infelizmente, devido a muitas pessoas que não respeitam o isolamento”, comentou o morador da Ilha de Santana, em Olinda, Emmanuel Santos, 22 anos e comerciante. 

Por conta desta problemática narrada pelo jovem, as favelas são as mais contaminadas pelo Covid-19. Por mais que essas pessoas que saem a trabalho tenham os maiores cuidados possíveis, muitos não cumprem o isolamento social, muitas vezes por falta da ação do governo, o qual fiscaliza somente nas áreas centrais do estado.

“O problema é que a gente [quem sai para gerar renda] sempre está se cuidando, usando luva, colocando máscara – mesmo sentindo falta de ar, porque meu meio de transporte é a bicicleta, já as outras pessoas não fazem sua parte. Aqui na comunidade, vejo muitos fazendo churrasco, dançando no meio da rua, fazendo reuniões com aglomeração”, relatou Uiliam Moreira, entregador de água e gás, de 24 anos, morador de San Martin, em Recife.

Em Pernambuco, somente Olinda, Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata estiveram em lockdown desde 16 de maio e perpetuou até o dia 31, porém o estado está de quarentena há aproximadamente três meses. Apenas 32,8% dos pernambucanos permaneceram em casa desde a tomada da decisão de isolamento social, segundo o Instituto In Loco.

Mesmo com a taxa abaixo do indicado pela Organização Mundial de Saúde, a reabertura do comércio foi iniciada na segunda (8). Os shoppings, que já funcionam no serviço delivery, poderão abrir para retiradas no local; as construções voltarão ao normal, das 7h às 17h; e o comércio atacadista continua funcionando das 9h às 18h.

Anteriormente, a abertura aconteceria no dia 01 de junho, mas o Governo Estadual sofreu pressão pelos empresários local, e alterou a data prevista.