Os valores olímpicos, em teoria, são belos: união dos povos, visibilidade à pessoas invisíveis e superação de dificuldades. Porém, os interesses particulares de determinados grupos resultam em outras situações, em direções bem diferentes. Este é o caso dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que o Rio de Janeiro começa a sediar oficialmente hoje.
Recentemente, li que a cidade do Rio não é maravilhosa, mas que cresceu em um cenário natural maravilhoso. Apesar da violência e do projeto excludente, há uma mística que fazem inúmeras pessoas a terem como a mais bela do mundo. Acredito nisso. As diásporas africanas que se formaram e se juntaram aos indígenas que aqui já habitavam nos deram o pavimento do que temos de melhor aqui: a resiliência e esperança de um povo que extrai sorrisos lindos, apesar de todos os problemas. Resiste quem pode à força dos nossos pagodes, diria a poesia popular.
É triste que o legado olímpico não se dará com uma contrapartida social, algo realmente funcional e que faça a cidade ser mais igualitária para quem mora em Costa Barros ou São Conrado. Mortes por bala, por banzo, remoções, obras superfaturadas e sucateadas, transporte ineficiente, dentre outras, são as chagas de gado dos aros olímpicos.
O que me faz acreditar que vamos tirar algo positivo disso é o aumento da disputa de narrativas: a favela falando por si, mostrando o quão diversa e profunda é, usando as novas tecnologias, tendo como referência outros favelados que também olham para o mundo em sua amplitude. Nas manifestações contra as Olimpíadas, nos palcos, nas calçadas, nas mesas dos bares ou dentro dos lares, eles estarão se expressando e dando voz a um coro maior que já ecoa e vai ecoar mais por ai. E volta no Samba: ”Resiste quem pode à força dos nossos pagodes”.