O menino Guilherme, mais uma crônica da morte anunciada em São Paulo

Guilherme Silva Guedes, mais um jovem negro morto pela PM - Foto da família

A população do Rio de Janeiro, profunda conhecedora da violência policial em sua rotina desde a criação da polícia por D. João VI em 1808, absorve com mais facilidade e até alguma inconcebível compreensão nos padrões do mundo civilizado, assassinatos de jovens negros nas periferias, como aconteceu na noite de domingo em Diadema, no ABCD paulista. Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, morreu com um tiro na cabeça depois de ser levado por dois homens na Vila Clara, no bairro de Americanópolis, na Zona sul da cidade.

A onda de protestos iniciada a partir do episódio ganhou as ruas e os espaços da mídia, mostrando que a violência policial revolta em qualquer latitude, e não apenas em Minneapolis, nos Estados Unidos. O grito da sociedade de faz ouvir e as providências são tomadas com rapidez pelas autoridades que sentem o cheiro de pólvora nas manifestações. Um policial militar já foi ouvido ontem, 16, na Corregedoria das Polícias, suspeito de participação na execução, segundo divulgou o jornal São Paulo Agora.

A versão predominante até agora é a de que o adolescente foi confundido com o invasor de um galpão no último fim de semana, intruso de identidade desconhecida, mas com certeza negro e pobre e de periferia, como Guilherme. É o padrão ensinado em todas as forças brasileiras – e não vou citar mais a polícia de D. João VI. O “crime” cometido pela pessoa que não morreu foi ter invadido um galpão. Vazio? Cheio? Com o que? Não importa, a questão central é que polícia existe para proteger patrimônio, casas, carros, galpões; e não vidas como a de Guilherme Silva Guedes, a sua ou a minha.

O jornal registra: “No local de onde o jovem foi levado foi encontrada uma identificação semelhante à da PM, com a inscrição ‘SD PM Paulo’. Após o desaparecimento, o corpo de Guilherme foi localizado e reconhecido por parentes na tarde desta segunda-feira, 15, no Instituto Médico Legal da Zona Sul da capital.”

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP acompanhou o ato de protesto promovido ontem para garantir a integridade dos manifestantes e para agir caso ocorresse algum eventual caso de violência policial. Mas o que sinaliza novos tempos é a revolta reportada no São Paulo Agora:

“Após a dispersão, no início da noite, um pequeno grupo se dirigiu à rua Olivério Girondo, espalhou lixo no meio da via e atearam fogo em sacos de lixo. O grupo também obstruiu o trânsito, virando diversas caçambas de lixo. O Batalhão de Choque da PM interveio e ocorreu um princípio de confusão. No dia anterior, ao menos sete ônibus foram queimados, três depredados e um adolescente apreendido.”

Como é praxe nesses casos, a família contou a sua versão, que colide com a da Polícia Militar, sem precisão de dados e de informações, sem qualquer aparência de verdade, mero documento para isentar policiais de mais um crime covarde e impune no país da violência e do ódio fomentados pelo próprio governo.