Em tempos em que impera a imagem da favela como único lugar de violência nessa cidade, é preciso que nós, moradores, lutemos contra esse estereótipo. Esse tipo de discurso, que acaba por vitimar a todos nós, precisa acabar. Uma maneira positiva que enxergo como transformadora são os espaços culturais, muitas vezes erguidas pelos próprios moradores, a fim de mudar a realidade tanto de dentro quanto para quem vê de fora.
No Morro da Providência, por exemplo, existem coletivos e casas de cultura que tentam mudar a nossa dura realidade, mas de maneira que o morador seja o próprio agente da transformação. Muito se ouve falar do coletivo Entre o Céu e a Favela, que busca, através de diversas iniciativas como dança, cinema, apoio e empoderamento de jovens meninas grávidas, fazer com que quem mora aqui tenha contato com as artes e construa as possibilidades que possam surgir a partir desse pontapé inicial.
Temos o Pré-Vestibular Machado de Assis, organizado pelo Grupo de Educação Popular (GEP) e que há quase dez anos vem ajudando a mudar a face das universidades, orientando em sala de aula centenas de jovens e adultos para adentrar os cursos de ensino superior. O combate à ideia de que favelado não pode se graduar é permanente.
No alto do morro, está a famosa Casa Amarela, erguida pelo fotógrafo e cria da favela Maurício Hora. A Casa possui uma escultura em forma de Lua gigantesca, onde qualquer pessoa pode entrar e se deparar com uma vista deslumbrante da favela, e uma exposição permanente de fotografias das mais variadas temporalidades do morro, sob diversos olhares. Além disso, o espaço promove cursos de artes, línguas e fotografia, principalmente para crianças. Ainda rolam por aqui as aulas com o grande mestre Eron César e a roda de capoeira por ele coordenada, que atrai pessoas das mais variadas idades, e o “Rolé dos Favelados”, visita guiada pelo morador Cosme Felippsen que vem contando a história da primeira favela do mundo.
Todas essas iniciativas listadas servem também para que nós, moradores não só da Providência, mas de outras favelas, possamos conhecer e reconhecer essas iniciativas como nossas também, enquanto parte do nosso território e feito por aqueles que entendem que a favela tem muito potencial. Então, é preciso que valorizemos e exaltemos o que temos de bom para que não aceitemos passivamente o que é dito lá fora sobre nós. É fundamental que mostremos a outra face da favela – não como um modo de mascarar o que há de ruim, mas sim, de mudar o conceito de que no morro só existe bandido, polícia e bala perdida.