Somos levados ao medo e ao temor todos os dias ante as covardias que enfrentamos aqui. Já não bastassem as inúmeras violações dos nossos direitos, somos obrigados a conviver com a desigualdade social e tantas formas de calúnias e arbitrariedades do Estado, que nos calam e nos mantém amedrontados o tempo todo.
O morador da favela é muito forte e corajoso. Ele vence diariamente tantos desafios que acredito que essa força é divina – só pode.
A criança quer estudar e não pode, afinal, as escolas passam a maior parte do tempo com as porta fechadas por conta da violência. Os jovens querem trabalhar e não acham uma oportunidade – com isso vivem à mercê da sorte, largados, sem um rumo e nenhuma luz no final do túnel. Os pais e mães sem emprego e sem esperança acordam todas as manhãs sem saber o que fazer ao longo do dia para suportar tamanha aflição nessa realidade tão dura.
Pergunto eu: como todos ainda conseguem sobreviver em meio a todo esse cenário e ainda encontrar tempo para rir e se alegrar? É fantástica a autodefesa que nosso povo desenvolveu como método de sobrevivência, e que tem sustentado a todos nós aqui.
Essa força que habita em cada um de nós eu chamo de “o muro que protege a favela”. Temos o nosso mundo. As tantas covardias que já vivenciamos se tornaram uma barreira protetiva. Cada um colocou um tijolo defensivo como forma de dizer: “aqui dentro é nosso espaço, não se mete”.
Esse muro não nos isola. Ele apenas nos protege dos ataques racistas e violentos que sofremos constantemente. Precisamos dele.
Meu barraco é uma parte desse muro que protege o morro.