(E a compilação das cabeças pensantes sobre o bem comum)

O Pensador Gabriel em um dos seus tantos momentos de lucidez contribuiu com todas as letras de que é necessária uma lavagem cerebral para as pessoas que foram educadas a serem racistas. Nenhum tipo de racismo possui sua justificativa para existir. Nem Freud explica. Albert Einstein diz que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito nessa época triste de descriminalização. Preconceitos de toda ordem produz subjugamento, o que delimita diferença e atraso na evolução da espécie humana, e, por conseguinte, a historiografia que desafia os 10% de raciocínio da cabeça animal não evolui do estágio de Homo Sapiens Sapiens.

Uma vez que se já aprendeu a ‘pensar’ é necessário aprender a ‘trabalhar’ ao próprio favor da Humanidade do qual participa e isso foi batizado com o nome de Homo Faber onde, após essa concepção de evolução interna em cada indivíduo, será possível uma Revolução coletiva quando por final teremos a radicalização da liberdade humana contra qualquer tipo de circunstância totalitária que submeta a espontaneidade individual e prive a descoberta para os problemas do Homem contemporâneo, fundamentada no seu drama secular.

Qual foi a razão do fatídico primeiro genocídio da História moderna resultar na diáspora africana trasladada rumo a escravismo praticado no Brasil, colônia de férias dos portugueses? Quem eram os incivilizados? No final das contas, em matéria de trágico, essa ação, só perde para o Holocausto provocado pelo anti-semitismo que coincide na tentativa de apagar a História, raça e cultura de um povo. Com a diferença que houve reparação para os Judeus. Os negros ainda não.

O tráfico atlântico de escravos africanos partiu da finalidade em desmanchar a homogeneização cultural de em média 12,5 milhões de pessoas submetidas a esquecer completamente a vida e as tradições herdadas. Sendo que mais de 1,8 milhões de pessoas morreram durante o caminho, dadas as condições subumanas da viagem, diante tal ato que infectou a pureza humanitária contida na essência de todas as almas e corpos daqueles indivíduos.

Acresce, também, aos africanos que morreram resistindo na luta contra a escravidão além da sabotagem de epidemias e fome, resultado da destruição das colheitas e do conseqüente desequilíbrio ecológico. A dimensão de extermínio foi muito mais devastadora durante o século XVI ao XIX.

No caso do Brasil, a colônia portuguesa recebeu 45,41% da massa escravocrata durante os permitidos 300 anos diaspóricos nas terras tupiniquins. E o restante da população contabilizado em mais ou menos 53,13% seguiu no translado para outras colônias como Caribe, América e Europa. E 1,45% teriam sido distribuídos aos outros países do próprio continente africano. Percebe-se a fração percentual do contingente humano pelo sentido de que a tradição ditatorial se fundamenta em “vaporizar” a moral d’alma do Homem, bestializar sua personalidade e humilhar todas as partes sadias do ego. O corpo físico é apenas o primeiro estágio, além de não deixar cicatrizes pelo tempo.

A Terra Mãe tradicionalmente referenciada através do fascinante espetáculo, quando as palavras “ética” e “estética”, formam versos simples do dia-a-dia e dos valores da vida conjunta se protegem do que seria um espaço de gueto, para dessa forma ressaltar da melhor maneira possível, a transcendente existencial energia que é emanada quando se existe união. Na prática diária acontece a representação quando essa corrente humana entra em vibração.

Sempre que existir um discurso libertário, seja por intermédio da música, da dança, na pintura, na escultura, nas religiões afro-descendentes, em suma, na organização social desenvolvida nos quilombos e nas demais maneiras de pensar, falar, escrever, agir no aqui e agora (Hic et Nunc) com rebeldia a escravidão, onde a dignidade seja conquistada como obrigação de reconstruir a vida nesse Novo Mundo em harmonia com o Outro; estaremos com o pé na África.

Tais verossimilhanças dessa população que se espalhou pelo resto do planeta, mais que todos partiram da Pangéia (que as instituições religiosas me desculpem, mais não há como negar o encaixe perfeito do nordeste brasileiro com a costa do Golfo da Guiné e a ilha de São Tomé e Príncipe a beira-mar) hoje em dia estão acampadas nessa Aldeia Global, ainda sem nome e nem rosto, recomeçaram a formar a sua identidade digital quando a fé na interculturalidade no que concerne respeito à diversidade e na liberdade das pessoas que se encontram na imensidão do Brasil e no resto do continente Sul-Americano que por fim, vem sendo reconhecido “como nunca antes na História” um potencial bloco emergente; buscam intuitivamente sua expressão sem precisar de uma vanguarda que os oriente.

Já que o conceito estabelecido antes de mais nada, não é nada, logo o que se deveria julgar seria o pós-conceito quando esse estaria firme em bases sólidas e não plainando na superfície imaginária da raça superior(?). Se existe superioridade entre a espécie humana só resta crer que os alienígenas já se encontram entre nós e não nos demos conta disso. Afinal, como se trata de um erro criado propositalmente, para que a segregação racial continue como segredo de estado da Corte nos resta duas perguntas: quem inventou a palavra preconceito e quando será erradica dos dicionários?

Em nome da disseminação do cristianismo a Igreja Católica patrocinou este etnocídio quando a civilização africana seria exterminada pela empresa mercantil colonial Ultramarina até os menos que restariam como sobra de mão-de-obra pra a construção dos castelos da Corte da capital colônia. Terminando a saga percorrida durante esses caminhos tortuosos, fecundou-se a miscigenação nos trópicos. Em meio à pluralização étnica que culmina na formação brasileira, o último e mais atualizado senso de 2010 registra nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e comprova a força que a diáspora contribuiu para a construção da civilização brasileira quando dos 190.775.799 milhões de habitantes do país, entre pretos e pardos, 96.795.294 milhões de cidadãos se assumem como afro-descendentes.

Na tentativa de conter o que era inevitável, a “política colonialista” brasileira desde 1500 até o século XIX tinha no programa de governo específicas políticas públicas para conter a multiplicação de africanos, crioulos, mulatos, pardos, morenos e demais misturas. Com isso, as propagandas à imigração de turistas estrangeiros se põem como alternativa ao “terror negro”, assim como a doutrina de ‘embraquecimento’ reforçava a ideologia de mestiçagem. Com a proclamação da República esses mecanismos de exclusão instituídos apenas mudam de nome.

Quando D. João VI assume o controle social, vendo que os “Quadrilheiros” já não mais podiam efetuar a segurança pública e pra se auto-presentear nessa data querida do dia 13 de maio de 1809 cria a Divisão Militar da Guarda Real da Polícia (DMGRP) nos mesmos moldes da que existia em Lisboa cuja função (não muito diferente das dos dias atuais) preferida dos agentes era se saciar da “ceia dos camarões”.

A receita era dedicar um “tratamento” especial aos praticantes de candomblé, samba e capoeira. Ou seja, os negros. Seguido apenas a tradição de mudar apenas os nomes. Todavia o café, a cana de açúcar protegidas pelas garruchas cruzadas junto com as letras GRP e a Coroa continuam no brasão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ).

Como diz no manifesto antropofágico: “A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa Coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.”

Contudo, como não poderia deixar de ser, é através das artes que a herança africana se manifesta na vida do brasileiro. Paladino de nobreza, o corpo torna-se signo da força da imaginação quando em si, ao se referir à expressão “Negão” se refere ao bem dotado e também ao sinônimo de força. E é através da fala corporal, no timbre da voz, na música composta, no corpo vestido nas cores, onde se aposta como tem que ser, no devir do curso da História, já estaríamos em outro patamar se não nos restasse resquícios do colonialismo nos catequizando que as forças da natureza são forças primitivas e impondo a censura para que não evoluam.

Contrariando a hegemonia do pensamento único, o sincretismo da cultura afro cultivada pelos africanos sintonizados com as festividades do Entrudo cultivado pelos portugueses, é a prova que a harmonia do cristianismo com a espiritualidade pode promover o maior show da Terra, quando o carnaval brasileiro é originário desse choque cultural medido entre escravos e senhores, colonizados e colonizadores. Que por fim, se não houvesse essas diferenças não seria um choque cultural e sim um sincronismo de uma cultura afro-lusitana capaz de propiciar para o resto do mundo a semente da maior confraternização universal. Quando é curioso que essas duas civilizações são historicamente antagônicas uma da outra…

A Europa se impõe na História através da “Lei do mais forte” não porque o Homem Branco é da raça superior por ser branca, e sim porque o tecido epitelial da cor da pele dos homens que rumaram do ecúmeno para o norte do planeta se deu na adaptação durante o período glacial do Velho Continente que, ao invés de pensar em se unir com o Outro pra melhor compreender o mundo, aproveitou-se do mesmo tempo livre, pra criar armas e conquistar o que era ‘desconhecido’, que por sua vez, não produziu o mesmo arsenal bélico em razão de a guerra (!) não ser o principal fundamento de uma cultura.

Outrossim, como a crise mundial é um problema que gera crise de identidade entre os seres humanos do mundo inteiro, um novo pensamento para o século XXI deve se ater, através das crises, a tatear as alternativas viáveis a saída desses valores que dividem suas depressões nas rodadas do ciclo vicioso e na produção retomam ao ‘frenesi’ impar do capital financeiro, última metamorfose da sedução humana.Os atores sociais estão diante do consenso, uma vez que a matéria representa, também, o iminente risco de um desenvolvimento conflituoso ao que acaba na perpetuação de uma negação violenta das particularidades naturais e ecológicas, econômicas, sociais e culturais de um povo.

Com isso, teríamos uma consistente Revolução epistemológica, pois essa se daria ao primeiro passo da mudança de olhar e entender que se faz necessário romper com a idéia preconceituosa de um centro do mundo.

Tendo em vista que se não for modificado a maneira de olhar o mundo ao redor, permanece o fundamento do colonialismo que é cego ao que é novo, e míope ao que é já é conhecido. A alteridade se baseia no fato de o Eu – individual só existir, se um Outro também existir. Se não existir diferenças para uma possível comparação, não existe também, individualidade. Portanto, o conhecimento de uma cultura, evidentemente, só possui sua própria especificidade se houver demais culturas que provem a diversidade.

A cidadania mundial totalmente desenvolvida só estará completa quando a diversidade cultural seja européia, mais também africana e indígena estejam também concebidas como um todo, aí sim, teremos o tripé fundamental da identidade brasileira e, por tabela, do mundo; já que são por esses motivos que fazem do Brasil o país do futuro.

Daí as vendas sob os olhos que por tanto tempo fazem com que Humanidade continue cega consigo mesma, refém de uma ideologia dominante cujo objetivo é excluir os demais tipos de crenças, tradições, modo de pensamentos; chegando ao cúmulo de afirmar que um povo não possui História, raça, e muito menos cultura seria desatada da sua face. Que segundo um dos maiores intelectuais brasileiros, Gilberto Freyre tendo concebido a formação da sociedade brasileira nas suas raízes diaspóricas, sendo essa cultura tropicalmente miscigenada entre o Continente Ancestral, o Velho e o Novo Mundo a única capaz de contribuir decisivamente para a construção de uma civilização luso-tropical.

O percurso para esse processo civilizatório elucidamente embasado pelo passar de 10.000 anos por Darcy Ribeiro (não por Raul Seixas), valendo, inclusive, auto-intitular-se como herdeiro de Marx por achar a resposta ao cruzar na sua linha interpretativa tanto o ponto de vista da História crítica da tecnologia como da História crítica da tecnologia natural. O que equivale na mesma proporção da teoria das evoluções das espécies, com ressalvas a Darwin também. E é, nessa concepção de um novo estágio da evolução sociocultural que será possível formar a civilização da Humanidade. Onde finalmente teremos todos os povos se integrando a uma só formação sociocultural diminuindo a diferença com o passar do tempo da estratificação social dos Homens sob a face da Terra. Sendo essa época precedida pelas Revoluções Agrícola, Urbana, do Regadio, Metalúrgica, Pastoril, Mercantil e Industrial.

Que também em outras palavras, teriam os mesmos aspectos do capitalismo em outros nomes, assim como a globalização econômica começou a tomar corpo com as invasões da potência que Portugal exercia no mundo. Denominando e suscitando o uso de energia numa sociedade para o destinatário que corresponde ao século XXI, tendo sido conceituada quando o mundo geopoliticamente dividia seu poder entre duas potências, de um lado o capitalismo e de outro, o comunismo, a última fase para construção humanista do globo terrestre se chama Revolução Termonuclear.

Está comprovado que o avanço da tecnologia é o motor do progresso social da Humanidade quando, é lógico, for possível incluir todas as nações nesse bojo de mudanças estruturais, digamos, quando a isonomia deixar de traduzir a economia em democracia da escassez, pra que todos tenham vez em termos abundantes. E aí veremos a internet multiplicar suas fontes de comunicações propaladas as igualdade de acesso ao conhecimento, estabelecendo uma legítima troca de informações diante do processo de aceleração evolutiva, desencadeando até que todos estejam unidos na mesma marcha civilizatória.

Como a tecnologia poderá propiciar prosperidade e qualidade de vida sendo o Homem o inicio, o fim e o meio destinado de intercâmbio do sistema mundial que corresponderá para que os países subdesenvolvidos, interajam com os desenvolvidos, propiciando harmonia mediante a identidade sociocultural dos povos emergentes. Esses por sua vez, irão impor outras formas de interação nas relações internacionais.

Vide que a estrutura social é constituída pelos conflitos das lutas de classes, quando essas estão “carentes” de solidariedade ante o saber e a ciência ser dirigido ao progresso tecnológico e desenvolvimento, não faria sentido desses últimos em prol do mundo se não estar à serviço da Humanidade em geral. Sentido esse, de princípios existenciais.

A mudança para outro mundo melhor se realiza, segundo Hannah Arendt, sob a conjunção da tríade de Trabalho primeiramente, em seguida a Obra a ser construída e, por conseguinte, a Ação que será gerada.

As questões mundanas se tornam concretas quando os artefatos produzidos consistem na durabilidade do material para que esse possa ser aproveitado futuramente e não descartado com um simples utensílio qualquer. Por isso o Homo Faber instrumentaliza os produtos para a serventia humana. Distingue-se, portanto, um objeto de utilidade tendo a sua durabilidade como fundamental para o bem-estar das pessoas, quando se aproveita integralmente a matéria-prima, não é necessário desmatar compulsivamente.

Dessa maneira constituindo um mundo fraternalmente humano, o sujeito inaugura uma identidade humana. Através da Obra se viabiliza tanto a carreira como sua conexão com o processo histórico por qual passa o cidadão em contato com o seu tempo. Assim se compraz o Homem como criador da civilização que coincide no que foi vislumbrado no passado para esse início de século XXI como o momento apropriado pra coexistir por vias da cultura das periferias mundiais, serem a base da contemporaneidade.

Em tempos de incongruência ideológica, como os dias atuais, é certo que reificação deturpa a criação das técnicas produtivas no sentido de os objetos apenas serem produzido com fins comercias. Ao se considerar que cidadania se confunde com consumismo, trocaram-se cidadãos do Estado por consumidores de serviços da Empresa. E os ‘clientes’ são medidos pelos mesmos indicadores que comprovam o grau de satisfação e nível da eficiência empresarial para quem tem poder aquisitivo. E o restante que não tem…

Se comportam na condição de submisso, face tal estado de coisas, impedir que a sensibilidade possa sentir a energia transcendental que o significado da existência propicia dado a pedra de toque ser polida de geração em geração.

E, nesse sentido, Hannah Arendt entende o mundo como comum a todos, tendo o senso comum como o norte da construção da civilização, suas tradições, arte e cultura. Aí se constitui o desenvolvimento e transformação das sociedades e dos indivíduos e na contrapartida, como teria combatido os exemplos de totalitarismos, como no caso do Nazismo, é justamente o racismo o que caracteriza o atrofiamento da Humanidade.

Se baseando, então, sobre o momento efêmero, Arendt traça o paralelo da constância do simples objeto de uso tendo sua importância enquanto durar o material físico, e a obra de arte que devida sua forma não tão simples assim, e tantos casos até complexos, propõe aos seus usuários, o público, a pensar sobre o material apresentado. Enquanto perdurar o interesse para com a obra de arte, aí está a sua existência, sua utilidade como contribuição do trabalho do artista. Primordialmente, a obra de arte é medida no vínculo do Homem com o seu mundo ao redor, e no insight que no início tido como inspiração, pode passar a ser um clássico.

Por tecer a condição humana, o Trabalho, a Obra e Ação constituem o vínculo diretamente com os escritores, poetas e artistas. Esses são dotados de um dom natural para interpretar o momento vivido já que seu trabalho é fruto da inspiração diante da sua intervenção no processo histórico. Visto que o papel central na Política legítima, segundo Hannah Arendt, é o de caminhar ao lado da Cultura; fica fácil compreender o porquê dos políticos tentarem censurar, se possível, até a pulsação da alma artística e de os artistas tentarem também, quando possível, subverter o dirigismo que provoca a decadência da verdadeira arte.

Nesse tocante de unicidade mística, inerente à noção de “aura” enfatizado por Walter Benjamim, é válido dizer que na época das técnicas de reprodução, é o seu culto pelo original que supostamente seria atingindo em primeiro lugar, se não fosse apenas a tradição de o “produto artístico” se tornar fenômeno de massas, quando é a própria massa a criadora desse produto artístico; se apropriando da sétima arte (causada pelo barateamento da técnica) finalmente, e na busca da sua identidade, fazendo emergir na própria linguagem cotidiana a sua significação social.

E como toda renovação, trata-se, portanto, de um novo modo de perceber os mesmos sinais, mais sob outra posição. Veremos, então, que a “aura” pode ‘brilhar’ quando as causas sociais não foram capazes de, apesar de todos o tempos, impedir que as massas se exprimam artisticamente e intuitivamente possa, imbuir sob a politização da estética, a reformulação do senso crítico de seu público.

Sendo assim, a crítica estética de Walter Benjamim, compreende a “aura” como capaz de perpetuar a História, a tradição e a identidade humana face o potencial da reprodutibilidade técnica se dividir em sua própria ambigüidade que se por um lado, a tradição cultural está em desencanto, por outro, com esse mesmo aparato técnico, o Homem será capaz de se emancipar.

Walter Benjamim acrescenta que a crise da aura significa uma crise maior da percepção humana já que a “aura” reluz a visão clara dos que estão aptos a captar o ‘brilho’ naquele instante singular. Entretanto, a reprodutibilidade técnica à serviço do ideário do autor que pretere se identificar na representação exposta propõe um novo paradigma para o valor aurático. Ao se considerar que se perpassou o acesso popular, mais que se tangencia na resposta da imaginação criadora da própria massa, ao fato do povo se tornar também agente cultural.

Sendo assim, os conceitos de “cultura de massa” ou “sociedade de massas” não se adéquam, uma vez, que a referida cultura não é produzida por essa mesma “massa” que consome. E também, esse “povo sem rosto” não deseja ser incluído, mas ser reconhecido. Botando a cara, digamos, os movimentos de massas é a própria personificação das transformações sociais progressistas face a conseqüente democratização artística e cultural.

E a História comprova o movimento da Humanidade em marcha. Essa busca do equilíbrio para a paz mundial entre a diversidade cultural dos continentes do planeta será proposta diante o espetáculo dos atores dos países periféricos sob a peculiar subjetividade de quem transcende a sua arte através do emocional para a razão e dessa forma o comportamento do público será mudado profundamente.

Onde o Homem com o nome cultura reconhecerá seu semelhante através da língua comum a sua própria cultivação na natureza étnica, cuja miscigenação será imbuída pelo avanço do aparato tecnológico propiciando mais condições para a expressão artística e as informações que a velocidade da internet permite alcançar, são o estágio final para transição desse mundo empírico para o real existencialismo do Ser Humano, ao passo do motor desse Hibridismo Antropofágico culminar da alavanca das tropicais manifestações luso-afro-indíginas.

Terminada o período da República Velha que começou com a proclamação da independência ao Império, inicia a Era Vargas seguindo a tradição de se obter os avanços nos demais campos de desenvolvimento do país sob autoritarismo “nacionalista”, censura, repressão, tortura e exílio, como veremos que o turismo se torna fundamental desde a imigração na colonização face o deslumbramento expresso na carta de Pedro Vaz de Caminha e nas duas ditaduras com intervalos enquanto o povo aproveita pra respirar.

Segundo Fausto Wolff “a estrada que conduziria ao neoliberalismo e à globalização apresentado como paradigmas, começou a ser aberta em 1945 e teve breves interrupções de 50 a 54 e de 61 a 64”. No que se mantém a tradição, resquício perpetuado pelo litoral da Costa do Descobrimento, de atiçar o imaginário pecaminoso que os “jardins do Éden” paralelo a excitação que o apelo sexual sedutor dos nativos promovia como perfume de mata virgem.

Leva-se em conta que a primeira ditadura no Brasil respirava os mesmos ares da 2° Guerra Mundial e o segundo regime de exceção foi regido pela Guerra Fria. Sendo assim, ao instaurar-se o Estado Novo cria-se também o Departamento de Impressa e Propaganda (DIP), órgão centralizador e disseminador da ideologia do Estado Novo para o povo brasileiro e para os estrangeiros.

Alzira Vargas, filha e assessora de Getúlio ao constatar, em plenas férias em Minas Gerais, que as belezas naturais serviriam como fonte de renda para o país, se une ao ator Procópio Ferreira e o prefeito de Poços de Caldas (MG) a fim de armarem estratégias para que o turismo se tornasse política de Estado visando a união do Departamento de Propaganda com o Serviço de Inquéritos Políticos e Sociais (SIPS) cuja função era espionar, fiscalizar e repreender qualquer tipo de discurso contrário ao pensamento do Estado Novo, formando finalmente a mistura perfeita para que o turismo se tornasse mais uma peça do aparelho de controle ideológico do Estado, sendo todos os veículos de comunicação em massa controlados com o que poderia ou não ser transmitido a níveis nacionais ou internacionais. Começava o pólo de entretenimento da nascente burguesia mineira.

E começava também, aqui outra vez, a articulação de segmentos das sociedades civis e militares utilizando o cristianismo contra as influências que o pensamento libertário poderia por fim as dominações imperialistas sobre a cabeça do povo brasileiro, para “salvar” a pátria do ‘perigo demoníaco’ tendo a idéia que -democracia trabalhista- era a que estava sendo posta em prática pelo governo, que se por um lado Getúlio foi tido como o “pai dos pobres”, por outro, foi a “mãe dos ricos”.

Resultando, então, na construção da estátua do Cristo Redentor como símbolo do cartão postal da ‘Cidade Maravilhosa’ e fortalecendo, mais uma vez, os laços da Igreja Católica junto ao poder de Estado ao permitir por decreto o ensino de religião nas escolas públicas, e propagando dessa maneira, a cidade do Rio de Janeiro sua Capital Federal e por extensão o Brasil, como paraíso tropical, o país do futuro e da democracia racial como iria se acentuar na seguinte Ditadura sobre os moldes do ufanismo com a criação do Instituto Brasileiro de Turismo ou Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) visando esconder novamente a repressão, tortura, exílio e os tiros nos corações e corte das cabeças para os cidadãos que “incomodavam” o governo, para vender a imagem do país do futebol e do carnaval, e também, do mundo exótico e erótico que as mulheres brasileiras representam como modelo de sensualidade no paraíso do pecado capital.

Nos anos de “Desenvolvimentismo”, quando a Indústria Automobilística iria acelerar a velocidade do país de 50 anos em 5, a insipiente Indústria Cultural brasileira ao mote do Nacional-Popular, tinha na juventude a sua vanguarda e o devido momento do processo histórico alcançado pelas reflexões que a atmosfera influenciada pela Revolução Cubana propiciava aos atores comprometidos com a realidade nacional se manifestarem em interpretações pelo prisma individual de cada segmento de representação artística ou universitária que confluía para a mesma concepção das mentes e corações de uma classe privilegiada pelo acesso a educação, artes e cultura.

Numa contrapartida, na calada da noite, começava uma conspiração no ambiente frio e pacato de Minas Gerais, vendo a burguesia, agora já amadurecida, e sentindo que aquela efervescência que a Capital Cultural carioca propiciava para o país, e a inocência da esquerda brasileira havia ido longe demais, era dado o momento de articular o Golpe Militar para apagar a chama que ardia chegando ao fim da “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas” com todas as letras.

O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS) estruturado economicamente e com unidade entre os integrantes, cujo aparato dos mais sofisticados formou o instrumento para induzir o povo a sua objetividade antes que fosse impossível mudar o destino da nação e então, filmes, propagandas na televisão, jornais e demais meios de comunicação para as massas, já iam incutindo a ideologia para a Indústria Cultural brasileira que ainda estava universalizando a sua identidade, tratando dessa maneira, a manobra para conservar o subdesenvolvimento que se mantém enquanto a cultura é consumida apenas como um produto ao entretenimento de um passatempo. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade saiu pelas cidades até a última palavra do além.

Cujos efeitos são os atuais dessa consolidação, a inflexão nociva que a Nova Ordem Mundial preconiza como um status pelo objeto e não do sujeito em sua finalidade como reflexão. Um freio de 20 anos para depois numa marcha lenta, porém gradual se arrastar até hoje.

Sobre essa questão do tempo, Che Guevara, já dizia que “os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira” e a consciente juventude brasileira, que conseguiu ficar isenta do processo de “tapeação das mentes” quando veste a camisa com a sua foto do seu mito, sabe que o presente momento, propenso a discussão de idéias do que seja a esperança para uma outra alternativa, significa um meio interstício entre passado e futuro, uma vez que se trata de avançar nessa fronteira semântica.

E que para a felicidade do próprio autor dos versos “num tempo/ passagem infeliz da nossa história/ passagem desbotada da memória/ das nossas novas gerações” a juventude de hoje, aponta as pistas para o futuro do país, onde cada vez mais, se reconhece os rumos tomados pela História ao cabo de guiar, ser partícipe do contexto em que se encontra inserido e protagonista do desfecho da estendida ruptura.

Sinais desses tempos transitórios não seriam mais claros uma vez que a 1° iniciativa dos militares foi tacar fogo na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) e atualmente está pra começar as obras de reconstrução na sede na cidade do Rio de Janeiro. No que deve ser a reformulação e emoção ao celebrar que a mocidade brasileira esteja sempre na vanguarda trabalhando pelo Brasil, como futuro e tradição do movimento estudantil, como lembra o lema do Hino da UNE composto por Carlinhos Lyra e Vinícius de Moraes.

Movimentos sob a égide do “Novo” para romper com desvirtualidade, a Bossa Nova representava a linha evolutiva da Música Popular Brasileira e o Cinema Novo representou a criação do Cinema Popular Brasileiro, e seus teóricos, Carlos Lyra e Glauber Rocha, defendiam o engajamento artístico, ao cabo de não ser possível uma Revolução Cultural sem haver uma cultura desenvolvida nacionalmente em toda a descrição popular, ou seja, o período demográfico (precedente ao popular) conceitualizado como contemporâneo pelo maior intelectual do Brasil, Milton Santos, onde o povo representa a sua própria cultura contraposta a induzida alienação acerca dos valores sobre o mercado.

Uma nova consciência, isso é, o pensamento livre, tendo seus princípios de solidariedade e cidadania sendo intermediados numa fronteira dialética da vida conjunta que ora auto-ironiza os motivos de estarem existindo naquela circunstância e, destarte, através das colaborações de todo mundo, discordam e contribuem para a construção de uma outra política no sentindo de um verdadeiro humanismo sendo uma civilização tendo a “familiaridade” como tônica e não mais, como até hoje tem sido, uma civilização fabricada pelo “olhar estrangeiro” à serventia de seus Senhores desde as invasões dos navegantes. Afinal, fazendo coro com o manifesto comunista: “As idéias dominantes de uma época, sempre foram as idéias da classe dominante”.

Sincronismo em questão, que seja da ciência do Homem ou mesmo efeito da magia mística e holística da arte, a estratégica da vanguarda é abrir caminho para os seguidores ocuparem o terreno conquistado dada a pedra de toque para coexistências dos seus ancestrais.

Tendo em vista que conspiração contra seu próprio semelhante é uma idéia deturpada produzida pela educação de um ambiente corrompido, impregnado por um cheirinho diferente no ar, e seduzido pelo simpático brilho do “sorriso falso”, ao mesmo tempo que o final para uma classe que se conserva isolada no seu egoísmo ímpar é acabar sendo abraçada fraternalmente pela maioria ao redor que, na ascensão reversível dado pelos mesmos espaços ocupados entre si, ‘ junto e misturado’ todo esse valor estratificado em camadas sociais se equilibra na ponte que atravessa ao campo da igualdade entre os cidadãos frente a justiça da sociedade. De maneira careta, todo Homem abriga no peito um coração e ninguém nasce sabendo descriminar o Outro.

A força da cultura nacional reside no seio do povo e o seu poder de tocar e despertar a massa para a transformação na estrutura social provam que desses 47 anos (1964-2011) que se separam da utopia, são quase que duas vezes a quantia exata, quando há 89 anos atrás, em 1922 a Semana de Arte Moderna ratificou que vanguarda e modernidade só deixam de ser herméticas quando o público compreende a mensagem .

O período da Nova República já deu os seus sinais democraticamente que está chegando ao seu fim, quando uma nova política para a nação se posta como alternativa de ruptura entre a disputa pela velha política, ao cabo de uma reforma política fundamentada no desenvolvimento que se sustente na proporção desmitificada das cores e frase originária da bandeira nacional que excluiu o “Amor por princípio” possa fazer a sociedade sonhar.

Para que o Brasil reinventado, mostrando a cara de seu povo sendo seu próprio soberano ao resto do mundo, possa dar uma nova interpretação de como viver em bem-estar com a natureza numa comunidade mundial de aproximadamente sete bilhões de habitantes. Eis o ponto de partida da simetria ao passo da formação de uma plataforma que atue em sinergia no combate contra todos os fenômenos maléficos em comum ao planeta, como na precisão poética do arco e flecha.

Se a velocidade determina a superação empírica desse tempo para a construção de uma sociedade humanamente pura, se faz necessário desmantelar o fenômeno da corrupção incrustado nas relações societárias desde as suas raízes, assim como há de compreender-se a origem do preconceito indissociável da corrupção.

Veremos que se trata de um paralelo impendido que cada um se reconheça como familiar em sua própria comunidade, sendo todos sujeitos e peças da mesma máquina progressista da Humanidade, sob efeito do caldo de cultura que mantém miséria e o subdesenvolvimento como processos normais e naturais.

Percebe-se, portanto, que enfrentamos as mesmas questões existenciais que o mundo passou ao final do século passado e o atual momento que a civilização humana atravessa, consubstancialmente propicia a ruptura desse tempo caracterizado como uma fenda que se abre, e também nos une como uma senda do passado recente; quando a modernidade perdeu os seus valores mais caros e agravou os problemas mundiais como os fenômenos naturais como terremotos e furacões e as epidemias de fome e Aids, sendo essas duas últimas fabricações propositais da classe tida como a ‘dominante’ e não ingênuas como as duas primeiras, resultando num mundo uno, globalizado economicamente e culturalmente, ao invés de ter alcançado seu fundamento ao equilibrar tanto o avanço da ciência e da técnica, como também, essencialmente, a prosperidade social e cultural.

Resta para o futuro se novas ações intersubjetivas não forem tomadas, o percurso decadente dos homens se entregarem para as conseqüências fatais que resultarão dos efeitos do buraco de ozônio atingindo não só uma pequena parte da população do mundo, mais todos os seres humanos racionais e irracionais e a flora de maneira gradual, assim também como o resultado do aquecimento global para todas as partes do mundo, desenvolvida e subdesenvolvida.

Sendo, inclusive, os países baixos da Europa também engolidos primeiramente pelos oceanos. Eis então, a dimensão do problema que o preconceito urge ser extirpado dos corações e das mentes dos Homens nesses tempos pós-modernos mediante ao protagonismo “sui generis’ que o Brasil contra a tendenciosa cultura global, é capaz de realizar face a sua multietnia, pelo sentido lógico de a História ser alcançada ao olhar de um futuro humano e de sociedades em culturas de paz, sob a proposta de trocas e coexistências multiculturais . Reformulação essa também se evidencia entre o velho pensamento solipsista e o novo pensamento pertinente ao início desse novo século e milênio.

Chegamos ao ponto final que, por sua condição na verdade, acaba sendo o ponto de partida rumo à mudança que se espera do promissor presente ao futuro de um outro mundo à ser transformado quando se depara com o embate político esbarrando no binarismo do sonho para a realização prática, quando a liberdade estimada dá-se na troca das relações fundamentais entre opressor e oprimido bem como centro e periferia para transgredir definitivamente as contradições que desfiguram a estrutura da subjetividade humana, e por tabela, suas representações culturais.

Acresce que essa superação segue para a o caminho libertário da condição humana de maneira independente do que deveria receber a estrutura do aparelho estatal para o desenvolvimento da sociedade, já que até então, o jogo do poder é contaminado pela falácia dos quadros políticos e suas bases militantes contribuem, ingenuamente, para a permanência do discurso vazio e a falta de ações eficazes.

Moral da História, a solução pro nosso povo já teria sido cantada por Raul Seixas na música “Aluga-se” que ou a gente entrega de vez as todas as riquezas, ainda mais nesses tempos de pré-sal para os estrangeiros, ou tratemos logo de “descobrir” o nosso país. E essa miscigenação intelectual frente ao tempo e espaço registra o ponto exato do nó da linha tênue do complexo do brasileiro que só será desatado quando a nossa gente tomar vergonha na cara que é através da diversidade multiculturalista, é por essa diferença que se encontrará a igualdade.
E é essa consciência nacional que está fazendo falta e fará toda a diferença, para que Brasil seja o passaporte diásporico para um Novo Mundo sem fronteiras e igualdade entre todos. Daí o preconceito e a corrupção (produtos do etnocentrismo) não existiriam mais e nem motivos de explorações e explosões de guerra entre os homens dando lugar a pluralidade, ao invés da hegemonia. Para tanto, devemos começar logo a usar nossas características de alegria e criatividade, como é conhecido o povo brasileiro, o mais rápido possível e parar de perder tempo com isso.

Nada mais pertinente quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO) declaram o ano de 2011 como o ano internacional do Afro-Descendente, e como vimos, filhos da Mama África somos todos nós.

*Dedicado à memória viva do multifacetado pintor, escritor, ator, diretor, jornalista (aí vai também articulista, cronista, colunista…), ativista, artista plástico, dramaturgo, poeta e político Abdias do Nascimento.

PS: A Miss Universo desse ano de 2011, coroada como a mulher mais linda do planeta, se chama Leila Lopes. Pela primeira vez, as beldades no mundo inteiro desfilaram no Brasil. Foi realizado em São Paulo e ela é da Angola.

Paulo Mileno – Ator