Bolsonaro sobrevoa Brumadinho, Quanta lama, hein, presidente?
Imagens de Brumadinho e da enchente no Rio de Janeiro são fortes, mas não o suficiente para sensibilizar o estado ou quem em sua estrutura deveria planejar e executar as políticas públicas de defesa da população, em especial a periférica, mais necessitada da autoridade que a defenda de interesses poderosos como são os da Vale e da incúria de quem tem entre suas funções a manutenção das vias públicas, bueiros, morros e encostas. Ao contrário, o estado atende os interesses das grandes empresas e volta as costas à população, administradores públicos, legisladores, juízes, todos estão do mesmo lado e se comprazem sem pejo ou vergonha na cara em escarnecer e tripudiar sobre o povo brasileiro.
Com a mesma cara de pau que a Vale enverniza para não pagar nenhuma das 15 multas aplicadas por agressões ao ambiente nos anos recentes, Flávio Bolsonaro distribui medalhas a milicianos e Sérgio Moro incentiva a polícia a matar, como se ela já não fizesse disso profissão de fé. Neste particular somos o país onde o presidente promete que cada cidadão poderá ter sua arma e o ministro da justiça autoriza matar quem estiver armado. Claro que a coisa não é bem assim, mas será, considerando os mais de 60 mil mortos por arma de fogo ao ano, segundo estatísticas oficiais.
Assim, ao abdicarmos do processo civilizatório em nome da tradição, da família e da propriedade, marchamos rumo ao passado que tanta saudade desperta no peito do capitão e parece ter se tornado também o sonho e a meta da parcela da sociedade que se julga beneficiária do golpe de 2016, mas que logo vai quebrar a cara porque não se pode construir o futuro com remendos e cicatrizes do passado – o resultado só pode ser esse Frankenstein projetado pelos militares hoje no topo da cadeia alimentar.
A metáfora da cadeia alimentar se encaixa com perfeição no cenário em disputa-se o poder: de um lado, a bancada da Bíblia e sua escalada obscurantista; de outro, a do agronegócio e o planejado extermínio dos indígenas e a aplicação de todos os venenos do mundo na produção agrícola; e ainda a bancada ideológica, com quem está afinada a turma do Mourão, que pretende cassar o registro dos partidos de esquerda, a começar pelo PT, em nome da democracia mais pura e linda que já se viu.
Era a este desfecho que se referiram Romero Jucá e Sérgio Machado na conversa telefônica em que apontaram a necessidade de “estancar” a Lava Jato para garantir a perpetuação da roubalheira. Hoje sabemos que estavam todos acertados, corruptos, políticos, juízes e militares para evitar o pior. Ninguém mais acredita, de boa fé, que Dilma caiu por causa das pedaladas fiscais. Se fôssemos mesmo uma democracia, com todos os desastres ela cumpriria o mandato e as oposições tentariam vencer nas urnas em 2018. Tudo na normalidade. Mas os americanos tinham pressa em entrar no pré-sal, os entreguistas em privatizar tudo, os políticos em manter o jogo sujo de sempre e os militares em liquidar de vez com esses esquerdistas que ganhavam todas as eleições. Comunistas, humpf! Os juízes mais bem pagos do planeta, que nunca simpatizaram com políticas afirmativas, direitos humanos nem liberdades individuais, fecharam o quadro golpista ”com o Supremo, com tudo”.
E assim chegamos ao “Brasil acima de todos, Deus acima de tudo”, ou o contrário, tanto faz. É só slogan de governo, como “Brasil, pátria educadora”, lembra? Pois é.