Vivemos tempos sombrios no país: redução de direitos, desemprego, insegurança, crise nos valores éticos e políticos da sociedade. Esse é um momento de crise estrutural que atinge todos no país. No entanto, é também uma excelente oportunidade para que possamos refletir e revisar os valores que regem a nossa nação.
E o que a favela tem a ver com isso? Tudo. As favelas sempre conviveram com a escassez, produzindo em abundância. Como isso é possível? Desde a sua origem, a favela se reinventa para sobreviver e resistir. Isso passa obrigatoriamente pela solidariedade e pela cooperação de seus membros. Um exemplo simples: na impossibilidade de se contratar profissionais para as construções da favela devido ao alto custo, a mobilização comunitária permite a realização desse tipo de ação. Ou seja, mesmo no cenário da escassez, a solidariedade garante a sobrevivência de todos. Forma-se, a partir dessa consciência comunitária, uma estratégia de resistência.
Hoje em dia, as grandes empresas afirmam que a favela possui o know how para falar sobre uma filosofia simples: menos é mais. Temos um grande potencial de resiliência e criatividade em tempos difíceis. A sociedade precisa olhar as favelas como uma solução diante da ausência de tudo. A expertise desenvolvida durante o tempo por essa população periférica vem nos mostrar que a responsabilidade solidária e a cooperação comunitária podem fazer muito com pouco ou quase nada.
A partir desse exemplo, podemos, enquanto povo brasileiro, resistir com mais força e vigor em tempos difíceis, pensando sempre no bem comum.
Publicado na edição de Janeiro de 2017 do Jornal A Voz da Favela.