O país cujo presidente negava qualquer relevância sanitária à pandemia do novo coronavírus desde o fevereiro/março do ano passado mostra agora preocupação com 300 mil mortos e anuncia a criação de um grupo especial para combate ao mal. É o mesmo homem que em julho/agosto do mesmo 2020 recusou oficialmente a oferta de vacinas de empresas multinacionais, negou-lhes eficácia e também disse que elas, as empresas, é que tinham interesse em vender seu produto e que ninguém queria comprar a vacina chinesa.
É o mesmo presidente da república que ainda defende tratamento preventivo ao contágio à base de cloroquina, hidroxicloroquina, Ivermectina, azitromicina e a doxiciclina, contra toneladas de evidências no mundo inteiro de que não são eficazes, têm efeitos colaterais graves que podem, inclusive, causar a morte de quem tomar e que não existe tratamento prévio à contaminação, o vírus não conhece droga capaz de barrar-lhe acesso ao organismo humano. Simples assim.
Da mesma forma tardia com que anuncia o grupo especial, o presidente sempre negacionista e paranoico pretende lançar campanha publicitária pela vacinação nos próximos dias. Isso depois de gastar os últimos dez ou onze meses dizendo que vacina não deve ser obrigatória, que ele não vai tomar vacina, que quem toma vacina é maricas, que temos que deixar de frescura e parar de chorar nossos mortos e que tudo isso não passa de mimimi orquestrado e regido pela mídia em conluio com a oposição comuno-esquerdista, o Supremo Tribunal Federal, os governadores e prefeitos de todo o país.
Quem vai acreditar que Jair Bolsonaro, o presidente em questão, é sincero ao defender a vacinação em massa da população? Quem aceitará a versão mascarada contra a Covid que ele exibe agora? Arrisco o palpite de que apenas os cegos que o seguem como zumbis, que já seguraram faixa em Brasília “com o capitão vamos até a morte” e que acreditam em toda e qualquer notícia falsa divulgada nas redes, não importa o quão obviamente inverossímil seja.
Mas assim é o país dos coitadinhos alienados dispostos a erguer bandeiras velhas como grandes novidades e propagar estultices como extratos de sabedoria pura. O país que até ontem rechaçava todas as vacinas e hoje alardeia o desenvolvimento de 17 delas, do Oiapoque ao Chuí. Mais uma vez a Europa se curvará ao Brasil, ao menos na propaganda oficial na qual, segundo o presidente da república mentiroso, somos o sexto país que mais vacina no mundo. Devia estar se referindo ao gado bovino quadrúpede; não o bípede que grita “Mito!” à sua presença.
Leio nos jornais e na rede que Jair Bolsonaro disse contar com o povo e o Exército para permanecer no Planalto até o fim do mandato e pelo próximo também, já que na campanha de 2018 ameaçou não aceitar resultado que não a vitória – escudado, é mais que sabido – nos verdes que hoje o cercam no poder e em mais de dois mil cargos nos demais escalões da burocracia. Onde há uma sala com mesa e cadeira pode dar expediente um general, almirante, coronel, capitão, tenente e até o cabo e o soldado que irão um dia num jipe fechar o Congresso por ordem de Eduardo Bolsonaro, eminência parda dos nossos dias.
Voltando às perguntas que não se calam, como as do quarto parágrafo, você acha que os empresários mineiros estão sozinhos na parada da vacina contrabandeada? Já lhe contaram que executivos de toda parte do Brasil voam em jatinhos próprios a São Paulo só para se vacinar? Finalmente, você acredita que os generais, coronéis e capitães como Bolsonaro não foram vacinados ainda?
Não sabe de nada, inocente!