A Copa do Mundo de 2014 acontecerá em 12 cidades brasileiras. E, por causa deste evento, no Rio de Janeiro, 12,5 mil pessoas serão removidas. Entretanto, o Comitê Popular da Copa e da Olimpíada diz que o número de pessoas atingidas pelas obras para a Copa, Olimpíadas e pelo projeto Porto Maravilha pode chegar a 20 mil famílias. Remoções de bairros pobres e favelas estão em curso há meses e milhares de famílias têm a perda de suas moradias anunciadas pela pichaçãoSMH (Secretaria Municipal de Habitação).
Mais do que casas demolidas, são memórias, histórias, vidas apagadas em troca de uma indenização, que de acordo com lideranças comunitárias, R$ 10 mil. Quem consegue comprar uma casa com R$ 10 mil no Rio de Janeiro?
No morro da Providência, a líder comunitária Rosieti Marinho, 53 anos, não se conforma em ter sua casa removida. Senhor Nélio, 63 anos, nascido e criado no Morro, diz que quer dignidade, respeito e liberdade para usar o que é da comunidade. “Uma comunidade centenária como essa não pode se acabar dessa maneira, o povo está iludido com o aluguel social”, afirma o morador.
Durante as reuniões dos moradores para discutir as remoções, muitos policiais armados sempre estão presentes. Os moradores se perguntam: Cadê o diálogo? Há a necessidade de intimidarem as pessoas com fuzis? De rir dos moradores? As obras são necessárias apenas para que os turistas saiam da Cidade do Samba, passem para ver os mirantes da Providência e depois descerem para a Central?
Os moradores do Morro da Favela, que é como eles gostam de ser reconhecidos, também gostariam de saber as respostas desse labirinto de perguntas com siglas e mais siglas que ninguém entende, não por causa da falta de capacidade, mas porque nunca foi dito. Dona Rosiete, nasceu, cresceu e além de viver ali, luta para manter sua casa que foi conquistada com muito trabalho e esforço. Essa é uma das muitas histórias e memórias que serão demolidas.
Remoções pelo Brasil
No Rio de Janeiro, em abril, 60 famílias moradoras do entorno da Marquês de Sapucaí foram removidas para distantes habitações no conjunto Oiti, em Campo Grande, na Zona Oeste. Estima-se que, somente na cidade maravilhosa, serão 20 mil famílias removidas. Nossos vizinhos mineiros também não ficaram de fora das remoções. Em Belo Horizonte, calcula-se que 2.600 famílias sejam removidas.
Em Porto Alegre, 4.500 famílias devem ser removidas para a execução das obras de duplicação da avenida de acesso ao estádio Beira-Rio. Ao longo da avenida Voluntários da Pátria, acesso ao futuro Estádio do Grêmio, 800 famílias devem ser removidas. Mais de 10 mil famílias serão removidas na capital gaúcha.
Já em Fortaleza, 2.700 imóveis estão na mira das obras do Veículo Leve Sobre Trilho (VLT). O trem urbano atravessará 22 bairros da cidade no trecho Parangaba – Mucuripe e custará R$ 265,5 milhões. E no Mato Grosso, na capital Cuiabá, 5 mil pessoas, entre moradores e comerciantes, estão nos planos de remoções do gerenciamento estadual. Até 2016, o número de despejados deve ficar entre 80 e 100mil no país.
Entre sem bater
Para incentivar o debate e o diálogo, os alunos da Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC) – um projeto do Observatório de Favelas – começaram a documentar quatro tipos de moradias e a perguntar para as pessoas “O que é moradia?”. Nesse sentido, os alunos da Espocc acreditam que uma cidade só cresce e se desenvolve com os seus moradores.
Batizado de “Entre sem bater”, a documentação de moradias como: ocupações, moradores de rua, ex-detentos e os moradores removidos, estará disponível na internet em outubro. O objetivo é representar, através da fotografia, audiovisual e outras linguagens artísticas, as fronteiras simbólicas que são criadas pelas pessoas em suas moradias e o direito à cidade. Além disso, os alunos querem que essa documentação gere reflexão e um debate mais amplo na população. Então, o que é moradia para você?
#entresembater