O século XXI não tem sido legal com a cultura. O Rio de Janeiro, que já se orgulhou de ser a capital cultural do país, hoje é uma cidade que fecha cinemas, bares, teatros, casas de shows e até bibliotecas. Outro dia, vi uma relação de casas noturnas e centro culturais que fecharam as portas por aqui: a quantidade de estabelecimentos me deixou muito triste e preocupado.
O Sesc, que sempre foi um dos portos seguros da cultura não só no Rio, mas em todo o Brasil, sofre hoje de um nanismo inacreditável. A direção cortou verbas, demitiu funcionários e acabou com a programação de alguns teatros, como o Arte Sesc Flamengo.
É também inexplicável que um teatro como o Villa-Lobos e uma casa de shows como o Canecão permaneçam fechados, sem previsão de reabertura. No ano passado, os ativistas do movimento Ocupa MinC, em pouco mais de dois meses de ocupação, mostraram que é possível também reabrir espaços ociosos com um pouco de vontade política e amor à arte.
Atualmente, não existem mais projetos de formação de plateia, como o antigo “Vá ao Teatro”, que vendia ingressos a preços populares nas ruas. A demolição do Teatro Glória era um alerta do que estaria por vir. Há pouco mais de dez anos, a Sala Funarte Sidney Miller reabria com a promessa de realizar uma programação regular na casa. O espaço agora é mais um elefante branco cultural do Rio de Janeiro, assim como o finado Teatro Candido Mendes e o João Theotônio, no Edifício Cândido Mendes, no Centro do Rio.
Se falar da falta de teatros e entretenimento nas Zonas Norte e Oeste, a coisa fica mais triste ainda. As lonas culturais do Rio sobrevivem graças à garra e o amor pela cultura de alguns produtores. Elas, que seriam um espaço de referência para a programação local, recebem um apoio pífio da Secretaria Municipal de Cultura, o que deixa os gestores sem verba para contratações de espetáculos e técnica. Cinema, na Zona Norte e Zona Oeste, só em shopping center.
Às vezes, parece que o atual governo municipal não gosta muito de cultura. Isso soa ainda mais claro com a recente mudança na legislação para a realização de eventos públicos, que endurece o diálogo com fazedores e gestores culturais. Ou seja, temo que viveremos dias sombrios nessa cidade.