O titulo da publicação de hoje é uma pergunta de uma leitora de São Paulo. A resposta é fácil: as milícias, assim como o tráfico, ocuparam um espaço da ausência do Estado, que omisso deixou a população mais pobre, sem o mais básico para a sobrevivência humana: SEGURANÇA. A população não tem segurança, que é promovida por esses grupos que, além disso, tomam conta de outros negócios, tais como, distribuição de gás, instalação da NET, entre outros. A população acaba pagando por esses serviços que deveriam ser proporcionados pelo Estado, que não trata essa população como cidadãos.

Trabalhei durante mais de uma década em favelas dominadas pelo tráfico e conheci pouco as milícias, até trabalhar agora como assessor de imprensa do Vinicius Cordeiro, que teve como candidata de seu partido Caminha Jerominho, que havia sido acusada de envolvimento com as milícias. Carminha foi eleita e libertada, afinal, no nosso sistema democrático, que tem muitas falhas, os mais de vinte e dois mil votos que elegeram a candidata têm que ser respeitados.

Quero deixar claro que não defendo nem a milícia, nem tampouco o tráfico. Os dois só se instalaram da maneira ostensiva pela ausência do poder publico, que agora tenta rechaçar esses grupos com a violência, se esquecendo que foi esse mesmo Estado que permitiu a presença desses grupos.

Gostaria de apresentar para vocês um pequeno texto de um colega que foi fazer uma matéria para o JORNAL DO BRASIL durante a campanha e após o texto dele fazer alguns comentários sobre a deficiência da cobertura da imprensa sobre o que acontece nas favelas do Rio.

UM DIA DE MEDO

Pedro Vieira

Era para ser uma matéria em Campo Grande, para acompanhar o candidato Vinicius Cordeiro (PT do B) e Carminha Jerominho. De carro, seguimos o automóvel do coordenador do candidato, que guiava a comitiva. Foram voltas e mais voltas em Campo Grande, transformando um caminho curto em longo e suspeito. Entretanto em vez de chegar ao gabinete de Carminha, como combinado, paramos na favela Nova Cidade, controlada pela milícia. A sensação de não ser bem-vindo me dominou. Voltamos e a ‘escolta’ de um gol preto até a Avenida Brasil, bateu o martelo: na terra de milícia, não entra quem quer.

Fonte: JORNAL DO BRASIL – 25/07/2008 – ELEIÇÕES MUNICIPAIS – Pg. A4.

Fiquei realmente estarrecido com o pequeno texto desnecessário publicado no JB. O jornalista, bem novo, que talvez nunca tivesse entrado em uma favela, ficou realmente dominado pelo medo, que se tornou evidente quando deu meia volta na entrada da comunidade sem ao menos nos reportar o que estava acontecendo. O jornalista não viu armas, não viu ninguém intimidando sua equipe. Faço inclusive um mea culpa, como falei para minha amiga do JB, Paula Máiran e para o próprio editor do jornal: "deveria ter ido junto com o Pedro no carro do jornal para lhe passar segurança".

Pois bem, diferente do Pedro, entrei na comunidade e vi o que ele poderia ter relatado: Crianças pedindo autógrafo da candidata e muitas pessoas demonstrando afeto e apoio àquela campanha.

Ontem Carminha chegou de volta ao Rio, depois de 43 dias presa em Catanduvas, presídio de segurança máxima, sendo recebida e aclamada pela população da Zona Oeste. Ou seja, o tiro saiu pela culatra… a intenção era acabar com um grupo político da região, provavelmente para beneficiar um outro. Não deu certo dessa maneira. A saída é o Estado fazer a sua parte com projetos sociais, educação e cultura para nossa sociedade!

André Fernandes