Está sendo inútil escrever sobre os mesmos assuntos. Vamos refrear os teclados e perceber a inação do corpo.
Estamos agindo no automático, como uma máquina perturbada: hiperativa e sem produto. Corpos adormecidos e dedos frenéticos. Nosso cérebro fumaça e vaporiza; nossos músculos dormem. Overdose de opinião e déficit de ação: eis um resumo do brasileiro angustiado com o país pós-golpe.
Pelo que estou entendendo, não foi impeachment nem golpe. O que esteve em curso segundo o Mágico de Oz (Gran Mídia) foi a modernização do arranjo democrático, assim como estão modernizando as leis trabalhistas… A democracia é verbal, é arte interativa dos sujeitos via palavras. Mas a democracia em risco clama por forças não verbais.
Os nomes todos já foram ditos e repetidos exaustivamente. Os fatos foram filmados, fotografados, gravados, difundidos. As palavras já deram tudo de si e já não há mais surpresas nos enunciados. Mas a Torre da Opressão não para de subir, tijolo a tijolo, argamassa de sangue, dor e suor alheio, enquanto a cidadãos postam, e postam, e postam.
Há um imenso desafio, um dragão na praça principal, e nós, em vez de flechá-lo, atacá-lo, avançar sobre ele com lanças, pás e pedras para defender a vila e nossas vidas, estamos agindo como papagaios orgulhosos repetindo-nos uns aos outros enquanto as chamas do monstro queimam as penas de nossas asas.
Portanto, a pergunta que não quer calar é: o que não está acontecendo?