O que o caso do jornalista Freddy Mc Connell tem a nos alertar

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Freddy McConnell é jornalista do The Guardian e homem trans. Após um tratamento de fertilidade, ele deu a luz a uma criança e está enfrentando a corte britânica para registrar-se como pai na certidão de nascimento. Em entrevista ao jornal em que trabalha, ele disse: “Estou realmente preocupado com o que isso significa não apenas para mim, mas para outras pessoas trans que são pais ou que querem se tornar pais.”

As justificativas da corte foram transfóbicas, conservadoras e superficiais, como por exemplo, considerar a gravidez uma característica apenas da maternidade.

Para McConnell: “Isso tem sérias implicações para estruturas familiares                               não tradicionais. Defende a visão de que apenas as formas mais tradicionais de família são adequadamente reconhecidas ou tratadas igualmente. Simplesmente não é justo”

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Do outro lado também temos tristes exemplos, como o caso da mulher trans Ágata Vieira Mostardeiro e de sua esposa mulher cis, Chaiane Cunha que não conseguiram registrar o filho como biológico de ambas. Chaiane precisou assinar uma documentação que falava que “desistia de procurar o pai biológico” e Ágata está como companheira da mãe da criança na certidão de nascimento.

Em entrevista para a folha de São Paulo, Ágata conta que é                                          triste estar em um momento feliz e não poder registrá-lo. Chaiane desabafa: “Vendo do ponto de vista de filha sem o nome do pai no registro, sabendo que essa é uma realidade recorrente, fico indignada. O Bento é de nós duas, é geneticamente das duas. Não faz sentido que só o meu nome conste.”

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A falta de visibilidade e pesquisas estatísticas das pessoas trans faz com que paternidade e maternidade trans pareçam casos isolados. Há também o mito de que para ser uma pessoa trans você precisa odiar o seu corpo e consequentemente, não pode ter filhos biológicos.

Para além da luta para a comunidade trans ter direitos legais, as dificuldades enfrentadas pelas mães e pais trans (ou outro termo neutro que ainda nem temos em nossa língua quando se trata de pessoas não-binárias), nos alerta para a necessidade de se estar atendo aos nossos discursos do dia a dia. Muitas vezes as pessoas comuns não são as que estão tomando as decisões legais em nome do Estado, mas todas tem papel fundamental na mudança desse cenário. Não devemos usar frases generalizadoras como “Se homem engravidasse, o aborto seria legal”, sem nenhum recorte de homens trans, pois homens trans engravidam e também estão lutando pelo direito de aborto seguro. Tanto nas lutas feministas por direitos intrínseco a pessoas que possuem útero ou no nosso dia a dia quando nos referimos a gravidez, aborto, amamentação, etc, devemos educar nossa linguagem.

As ideias como “apenas mulheres engravidam” ou que para ser mulher se precise ter útero são o que constroem a chamada “disforia”, na falta de um termo melhor. É a transfobia e a marginalização das pessoas trans que fazem elas odiarem seus corpos e consequentemente, não se darem ao direito de ter um filho biológico com um corpo trans. É certo que nem toda pessoa trans quer engravidar, assim como nem toda pessoa cis e todas merecem respeito pelas suas decisões.

Fotos de famílias com pais e/ou mães trans para enaltecer a diversidade nas formas de se ser família:

Wyley Simpson e Stephan Gaeth.                                    Créditos: Reprodção
Anderson e Helena com o filho Gregório.                 Créditos: Reprodução
Frank Teixeira e Taris de Souza esperando Antonella.                                                  Créditos: Reprodução
Kayden Coleman e Elijah com a fília Azaelia                Créditos: Reprodução
Trystan Reese, Biff Chaplow e o bebe Leo      Créditos: Reprodução
Thomas Beatie, a ex esposa e seus 3 filhoes biológicos.                                                            Créditos: Reprodução
Scott Moore grávido e seu marido também trans,  Thomas com seus filhos e cachorro.                            Créditos na imagem

O The Guardian produziu um documentário sobre a gravidez de Freddy McConnell. O título em português é “cavalo-marinho”, um mascote da comunidade de homens trans pois nessa espécie, é o macho que engravida.