Näo consegui ficar indiferente. Sábado, quando desembarquei na estaçäo de metrö Poble Sec, em Barcelona, ele estava ali. Ontem também, com um domingo de Sol. Seus livros e gaitas, me fizeram pensar o que tinha levado uma pessoa que gosta de ler e toca gaita, chegar no estado de ficar na rua. Hoje, quando acordei, estava chovendo. Fiquei pensando o que faria. Lembrei de seus livros e pensei: Já que näo vendi todos os livros ainda, quero presentear aquele senhor com mais essa leitura. Fui até ele.
Juan Molinas, pasmem, 82 anos, afirma não ter família, tem filhos, que disse “estäo por aí”. Quando me aproximei, ele estava tocando uma gaita sentado sobre as pernas, abrigado debaixo de um guarda-chuva. Centenas de pessoas passavam, indiferentes aquela imagem. Me ajoelhei e conversei um pouco, coisa de uns dez minutos. Muito pouco para entender toda a vida daquele homem, mas o mínimo para que sentisse que nada mudou! O que me moveu há vinte e trës anos atrás, que me fez abandonar uma carreira de Fuzileiro Naval para me tornar missionário, continua me movendo.
Perguntei para Juan se conseguiria entender o portuguës e se poderia lhe dar um livro. A priori, ficou reticente. Quando mostrei o livro, leu o título e foi direto na orelha, onde tem uma foto minha e uma breve descriçäo do meu trabalho. Olhou para mim e disse: Usted! Fiquei feliz. Ele quis o livro. Ao sair de perto, olhei para trás, ele estava lendo. Ajudei-o como pude e estarei na torcida, para que sua vida melhore, que o ajudem e que esse mundo mude. Que os que tem, possam ajudar os que näo tem, que a sociedade se torne mais igual e que esse mundo melhore!
