Projeto “O que tem atrás da porta? , foi idealizado pela professora, escritora, e Mestra em Linguagens, Helena Vitória Nascimento dos Santos, com objetivo de narrar histórias de literatura africana, indígena e negra infantil; Elevar a autoestima de crianças, da primeira infância aos 12 anos e fortalecer as práticas literárias como instrumento de combate ao racismo.
Considerado como é um negócio de Impacto Social, desenvolve Práticas de Enfrentamento ao Racismo e de Valorização da Criança Negra por meio da Literatura Infantil.
Desde 2015, promove contações de histórias com base nos estudos de gênero, étnicos e raciais. Com proposta antirracista atende as Leis10.639/2003 e 11.645/2008 que instituem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena respectivamente e atua no combate a qualquer forma de opressão de gênero ou sexualidade.
As atividades acontecem em vários espaços, como: escolas privadas e públicas, associações culturais, universidades, empresas, Feiras Literárias, shoppings, livrarias, eventos de modo presencial e/ou virtual, levando narrativas afrorreferenciadas e/ou ameríndias.
Livro infantil como ferramenta para uma educação antirracista
Com foco nas questões étnicos-raciais e de tradição da cultura popular e oral, Alice mergulha numa aventura única e emocionante, descobrindo segredos antigos e aprendendo sobre a importância da ancestralidade, do fantástico e do indizível.
De autoria de Helena Nascimento, “Alice e o enigma de Ouruvaia” é um livro para infâncias, que fala sobre a beleza e a doçura de ser criança e de esperançar. Nesta aventura, a menina Alice, de pele preta reluzente e de sete anos, apresenta em seus doces sonhos os encantos dos seres visíveis e invisíveis, e tempera com o xodó de Voinha e Voinho as peraltices de uma criança negra feliz.
O livro será lançado na programação da Flipelô, em Salvador, dia 11 de agosto. Dentro da Programação Infantil.
O projeto é respaldado nos estudos de gênero, étnicos e raciais. Com proposta antirracista atende as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que instituem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana,afro-brasileira e indígena respectivamente e atua no combate a qualquer forma de opressão de gênero ou sexualidade.
Para a pernambucana Maria Letícia Machado, cientista política e pesquisadora de políticas públicas no Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), uma infância livre de racismo é possível. Pois, o enfrentamento ao racismo é uma tarefa de natureza coletiva e, infelizmente, é uma história que está longe de ter o seu ponto final.
A solução ideal, vai além da transformação da consciência e passa pela elaboração de políticas que promovam mudança de comportamento.
No aspecto cultural, é importante inserir no imaginário infantil referenciais positivos sobre negritude, como heróis negros, bonecas negras, livros de histórias com mitologia africana e afrobrasileira, frequentar espaços afirmativos e com atividades de resgate cultural e de valorização da estática negra.
Além disso, é fundamental ficar atento à reprodução de racismo entre as crianças. É importante valorizar o discurso da igualdade, porém sem embutir o discurso de que somos todos iguais que, por vezes, esconde uma falsa ideia de democracia racial. Por isso, conversar com as crianças negras e não negras sobre diversidade racial, é um passo importante na desconstrução do racismo.
A Lei 10.639 completou 20 anos e ainda há resistência por parte dos gestores nas escolas.
Qual papel a literatura infantil com temática étnico-racial tem na aplicação da lei no ambiente escolar?
Helena Nascimento: A literatura salva! Então, quanto mais as crianças tiverem acesso a livros literários, mais elas podem aprender sobre culturas diversas, sobre povos, a respeito da diversidade geopolítica e social. Agora, a literatura afrorreferenciada, para crianças negras e brancas tem majoritariamente o poder de apresentar a história apagada das populações negras, valorizar as famílias oriundas da diáspora africana, apresentar um continente africano múltiplo, rico e diverso (ao invés da propagada miserabilidade) e salientar a beleza da estética e cultura negra. Estes são pontos que todas as crianças, negras e não negras, devem ter acesso, porque quanto mais as nossas infâncias são apresentadas a pluralidade de narrativas, menos o racismo e as opressões serão difundidas nas escolas.
Em março deste ano, o livro infantil “Amoras” , de Emicida, foi alvo de intolerância religiosa praticado pela mãe de um aluno do ensino fundamental de uma escola particular de Salvador, na Bahia.
Quais os caminhos possíveis em âmbito pedagógico para uma contranarrativa para o fundamento religioso?
Helena Nascimento: As escolas, as famílias e as comunidades devem se unir e ouvir o Movimento Negro que desenvolve ações relevantes de conscientização racial, étnica e religiosa. Além disso, outra possibilidade de atuação são as instituições de ensino, públicas e privadas, desenvolverem práticas pedagógicas de inserção das lideranças religiosas de matriz africana dentro do ambiente escolar, promovendo em concomitância projetos e programas de aprofundamento das culturas, das diferentes expressões religiosas e da concepção de Sagrado. As escolas para serem laicas de fato, não podem normalizar a utilização de símbolos da cultura judaíco-cristã e demonizar o Sagrado do Outro.
Quais são os reflexos no desenvolvimento intelectual e social do acesso a obras que abordam questões étnico-raciais e diversidade de gênero?
Helena Nascimento: As crianças e jovens que têm acesso a literatura plural que propõe a valorização das múltiplas culturas, narrativas, estéticas, patrimônio e produção de conhecimentos, para além da reprodução da colonialidade e da heteronormatividade tem mais chances de compreender cedo que há outras possibilidades de existência para além da branquitude e do discurso patriarcal. Eles conseguem conceber, na maioria das vezes, que há outras formas de cultuar o Sagrado, que em África tem uma multiplicidade de línguas, modos de vida, falares, pessoas, riquezas e que a negritude construiu um legado no Mundo. Eles podem se tornar multiplicadores de práticas antirracistas e agentes de transformação social. A mesma situação em relação ao respeito as mulheres (negras, indígenas, cis, trans), as lutas empreendidas pelos grupos LGBTQIA+ e outros.
Helena Vitória Nascimento dos Santos
Escritora, Professora da Rede Pública de Salvador, Mestra em Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Especialista em Estudos Étnicos e Raciais e Pesquisadora de Literatura Negra Feminina e Infâncias Negras (PPGEL – UNEB). escritora, professora da Rede Pública de Salvador.