Com o crescimento populacional das cidades, crescem-se os problemas urbanos e com eles as especulações imobiliárias exprimem as minorias sociais e os pequenos grupos. Esses são marginalizados e oprimidos socialmente. Estudiosos denominam esse fenômeno como “Racismo Ambiental”, que são às injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre grupos étnicos vulnerabilizados e sobre outras comunidades, discriminadas por sua origem ou cor.

Por sua vez, HERCULANO (2008), explicita de forma delineada:

Os mecanismos e processos sociais movidos pelo racismo ambiental naturalizam as hierarquias sociais que inferiorizam etnias e percebem como vazios os espaços físicos onde territórios estão constituídos por uma população que se caracteriza por depender estreitamente do ecossistema no qual se insere. Em suma, trata-se aqui da construção e permanência de relações de poder que inferiorizam aqueles que estão mais próximos da natureza, chegando a torná-los invisíveis. […] Assim, nosso racismo nos faz aceitar a pobreza e a vulnerabilidade de enorme parcela da população brasileira, com pouca escolaridade, sem renda, sem políticas sociais de amparo e de resgate, simplesmente porque naturalizamos tais diferenças, imputando-as a ‘raças’. (HERCULANO, 2008, p. 17).

Os Povos Tradicionais de Matriz Africana oriundos do Continente Africano, os quais foram sequestrados e transformados em escravos e, após 350 anos foram jogados nas vias da exclusão social das grandes cidades, vivendo até a contemporaneidade os retratos das proibições de tudo que desenhe sua visão de mundo (arte, ritos, mitos, alimentação e língua). A herança negativa da diáspora forcada persegue os descendentes destes povos que foram transformados em “não humanos”.

Em todo o país, a chamada libertação dos escravos atirou-os da senzala onde viviam e da casa grande ou dos engenhos onde serviam para o nada. Sem qualquer política voltada para a criação de oportunidades de trabalho e de moradia, de acesso aos chamados serviços públicos e a qualquer condição de cidadania, o negro seria de diferentes formas desterritorializado. A sociedade que durante séculos os usara não os queria. De alguma forma ainda os toleraria, a eles relegando serviços por muitos considerados “indignos dos brancos”. Mas, à medida que a “modernidade” chegasse, novas soluções seriam encontradas para que esses serviços menores continuassem a ser realizados, quando necessários, mas mantendo seus “prestadores” tanto quanto possível à distância. (PACHECO. 2008, p. 4).

Nas cidades, esses foram colocados em uma posição social antes não vista, pois eram “escravos”, e a partir do alvedrio, passaram a ser chamados de os “não humanos”. Um grupo populacional que antes não tinham representatividade alguma na esfera política e social passam a ser visto como os problemas sociais das cidades.
Pois os mesmos careciam de empregos, saúde, educação e o mais importante, manter suas Tradições africana de forma livre. Algo extremamente complexo e difícil de ser adotado pelos “dominadores” do poder. Não sendo aceitos nos centros das cidades foram impulsionadas às “favelas”, e esses espaços sim, não tinham nenhuma forma de estrutura social para sobrevivência.

… resta alguma forma de exílio. Do confinamento em assentamentos ou em reservas cada vez menores, sem condições para garantir suas tradições culturais e sequer a subsistência, ao desterro e à migração para os centros urbanos, onde dificilmente conseguirão conquistar algum espaço para viver com dignidade. Na maioria dos casos, acabarão nas zonas de risco das favelas, dos subúrbios ou do entorno de fábricas, poluídos pelos lixões e pelos resíduos tóxicos. (PACHECO. p. 2, 2008).

Nas cidades não aceita-se os princípios civilizatórios afrocentrados por herança, pois tem-se a visão da Áfrika como um continente de estrema pobreza povoados por etnias negras. A distribuição de estrutura urbana e de políticas públicas é realizada para com os mais favorecidos, neste caso, as classes dominantes são as beneficiadas com as políticas de segurança, saúde, educação, moradias e mobilidade. Esses programas são realizados em áreas urbanas onde concentra a população “esbranquiçada”, para as áreas suburbanas e rurais restam residentes Povos Tradicionais de Matriz Africana, que por sua vez, não são vistos pelos dominadores de poder como grupo de prioridade. Fazendo das cidades um local de não inclusão e divisor de classes e culturas.

Além das questões ambientais, precisamos mais que nunca aprender a conviver com a diversidade. Mais que isso, claro, precisamos aprender a valorizar a diversidade. A vida é um inferno para quem odei a diversidade e estes acabam fazendo da vida dos outros um inferno também. A intolerância é um veneno tão perigoso para a saúde como a poluição. (BULGARELLI, http://www.blogdoguilhermeba ra.com.br, 2012).

Outro fator é a não aceitação da diversidade, o Brasil, país de muitas culturas, ainda retarda nas questões de respeitos e igualdade racial de gênero e raça. O Estatuto da Igualdade Racial (Lei Federal nº 12.288, de 20 de julho de 2010), em seu Art. 1º parágrafo II define como, desigualdade racial “toda situação injustificada de
diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas públicas e privadas, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica”.

Os negros, por exemplo, estão sujeitos a insultos diretos ou indiretos, que visam confirmar a definição cultural de sua inferioridade ‘inata’ e, talvez mais significativamente, procuram lembrá-los continuamente de tal inferioridade, fazendo assimilar o significado da baixa estima social que lhes é devotada. (GUIMARÃES. apud CAPUTO, 2012, p. 201.).

As cidades crescem, e as especulações imobiliárias são contra grupos Tradicionais pertencentes dentro à municipalidade. “A maioria dos países ocidentais praticam o racismo antinegros e antiárabes, sem mais recorrer aos conceitos de raças superiores e inferiores, servindo-se apenas dos conceitos de diferenças culturais e identitárias.” (MUNANGA. 2005, p. 53).

A política de zoneamento e os planos de direcionamentos dos municípios não vêm sendo pensados para garantir a terra e a territoriedade dos Povos Tradicionais de Matriz africana. Pois o capital de lucro esmaga às culturas, para dar espaço ao “desenvolvimento”, deixando claro que a ordem do estado é o progresso e não a igualdade com respeito a diversidade.

Artigo anteriorBando de Teatro Olodum inscreve para o Projeto Erê
Próximo artigoVacinação contra a dengue é ampliada para jovens de 19 e 20 anos no Rio
Doté Olissassì
Graduado em Pedagogia, Pós-graduado em Gestão Pública Ambiental, Roteirista, Produtor Cultural, Comunicador e Consultor de Projetos. Autoridade Tradicional (Doté) da Fraternidade de Matriz Africana S'aganmà Zùn, Povo Tradicional de Matriz Africana Jeje Mahi. Coordenador Geral do escritório da Associação Mundial Naziafah no Brasil, Coordenador Nacional de Comunicação do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana - FONSANPOTMA, Coordenador de Comunicação da Teia Nacional Legislativa em defesa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, Conselheiro Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério do Meio Ambiente, Conselheiro Nacional de Igualdade Racial do Ministério da Igualdade Racial, Dirigente do Núcleo Nacional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana do Partido dos Trabalhadores, membro do Movimento Negro Unificado - MNU-RN, Coordenador de Comunicação e Consultor de Projetos da Associação Multicultural Azumatar, Coordenador Estadual do Setorial de Segurança Alimentar do PT-RN, Consultor Pedagógico da Antropos Consultoria Socioambiental, um dos autores do Livro Negritude Potiguar e Colaborador da Agência de Notícias das Favelas - ANF.