O Brasil de hoje parece replicar os mesmos atos do país ainda em tempos do Império. O amor pelo título de nobreza comprado para assegurar os gastos de uma Corte falida e que causava nos novos nobres um certo fascínio ilusório de poder sobre o outro. A chamada “carteirada” dos dias atuais é resultado dessa época em que o sujeito desejava subjugar o outro com a pergunta intimidatória: “Você sabe com quem está falando?”. Foi assim com o motoboy Matheus Pires Barbosa, que foi humilhado com termos racistas por um homem num condomínio em Valinhos, São Paulo, no dia 31 de julho e que teve o vídeo divulgado no dia 6 passado.
Matheus tem recebido grande apoio nas redes sociais. Frente a essa situação de opressão e racismo, percebo que tal fato é algo endêmico no tecido social do país e também do mundo. A resposta para o ato deve ser clara e coerente. O racismo deve ser enfrentado de frente, tal como o jovem que sem pestanejar perguntou para o parasita o porquê da sua atitude. Matheus mostra calma e capacidade de inteligência emocional diante das pedradas do preconceito. Não basta não ser racista, mas sermos antirracistas, já diria Djamila, que discorre de maneira impecável sobre esse assunto. Hoje vemos vários escritores com esse mote.
Eu fico pensando que a história contada pelos brancos sempre tentou carimbar e aprisionar o negro num confinamento geográfico. Parece coisa de pensamento fatalista ou determinismo. Gente é pra brilhar, já dizia Caetano. Eu lembro de uma frase de Blaise Pascal: “Na dor, na fome e na morte todos se igualam”. O que faz alguém pensar que é melhor do que outro, somente por ter uma pele mais clara ou uma condição financeira favorável? Existe algo que não se compra: sabedoria e caráter. Em pleno século XXI o homem parece querer ser o lobo homem (Thomas Hobbes). Eu acredito que a história faz o homem e por sua vez, o homem faz também a sua história.
Quantos jovens negros, pretos e pardos sãos discriminados todos os dias? A questão é: o que fazer? Devemos não nos calar diante de toda atitude racista e nos posicionarmos. A história do jovem motoboy serve de exemplo de como reagir em momentos como este. Manter a calma e responder com perguntas de retórica. A filosofia fala da sabedoria de perceber o outro e respeitá-lo. Essa é beleza da humanidade, a tal pluralidade.