Domingo, dia 07 de outubro de 2018, o povo brasileiro foi às urnas para eleger aquele que irá comandar o país e os que estarão no comando de seus estados por quatro anos . E em meio ao cenário político conturbado que estamos vivendo, como já era de esperar, o processo de votação também foi bem tumultuado em todo Brasil e em especial no Rio de Janeiro que está sob intervenção federal. Foi meio surreal, mas, o que vimos por todos os locais de votação eram imensas filas e ouvimos diversas pessoas reclamando da longa espera para exercer o seu direito ao voto.
Como o Brasil não é e nem nunca foi uma nação organizada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), resolveu testar nessas eleições um sistema novo, que é o sistema biométrico, para ser mais específica, a chamada biometria, que é o reconhecimento digital do eleitor, que estava previsto para ser testada em 2020, mas resolveram antecipar. Para quem já votava e se lembra da época, vimos esse filme nas eleições de 03 de outubro de 1996, quando foram lançadas as urnas eletrônica e nesse dia os brasileiros foram às urnas para eleger os prefeitos de suas cidades. Portanto, como aqui é o país do “vai que cola” e não houve um esclarecimento prévio, assim como a vinte e dois anos atrás, formou-se aquele tumulto nas seções eleitorais e devido a demora na testagem da biometria, os organizadores se viram obrigados a estender o término do horário de votação, tendo locais que funcionou até horas após o encerramento e já com a apuração começada . Muitos desistiram de esperar e saíram da fila, pois, por “inúmeras razões, preferiram abrir mão do seu direito ao ter que perder seus compromissos por causa da má organização do TSE. E como aqui no país o retrocesso está imperando com louvor, fez com que a confusão na hora da votação de 2018, século XXI, não se diferenciasse muito da de 1996 do século XX passado, com muitas pessoas confusas e sem saber como usar o novo sistema.
Bem curioso isso, não é mesmo? Como o Brasil só retrocede a cada ano que se passa. O país do futuro não passa de uma mistura de conservadorismo com atraso e com muito poucas perspectiva de mudanças. Falo isso porque foi o que ficou demonstrou o resultado das eleições e com destaque para o Rio de Janeiro, que elegeu candidatos conservadores ao extremo para o Senado Federal e no último momento, contradizendo todas as pesquisas de intenção de voto para Governador, levou para o segundo turno um candidato que segue também a linha do conservadorismo. O mesmo faz promessas e propostas de campanha, seguindo a mesma linha de um dos candidatos à Presidência, que é declaradamente ultraconservador, pois até declarou durante o último debate e em seus últimos programas eleitorais, seu apoio a ele.
O que houve com o Rio de Janeiro, será que encaretou mesmo? Será mesmo que povo fluminense está realmente de saco cheio dos velhos políticos e quer mudanças e renovação, colocando no comando do Estado pessoas com ideias e pensamentos retrógrados? Acho eu, que decisões das urnas foram um tanto contraditórias, pois se queremos caminhar rumo ao progresso e obtermos avanços, não se pode eleger políticos que nos impedem que isso ocorra.
O mais surpreendente e bastante curioso, é que esses candidatos durante toda a campanha eleitoral, além de declararem todo preconceito com gênero, orientação sexual, etnias, etc, propunham a violência como forma de melhoria da segurança, sendo esse o mal que nos aflige à décadas e clamamos por sua extinção. E não fugindo à essa regra de eleger conservadores, o candidato que surpreendeu nas eleições para governador do estado e que nas pesquisas tinha apenas 6% de intenção de voto até sábado e liderou a votação com mais de 41% de votos válidos e chegou ao segundo turno e desbancando os que estavam bem a sua frente, inclusive o que liderava desde o início.
O candidato emergente, digamos assim, em uma de sua promessas, diz que resolverá o problema da violência no Estado, é claro, usando a própria. O mesmo, promete que dará carta branca a polícia para entrar na favela e abater qualquer marginal que esteja portando um fuzil, segundo palavras dele. E ainda, segundo ele, “a polícia militar do Rio é bem treinada e preparada para atuar nas comunidades e saberá tomar todas as medidas e precaução para abater o marginal com segurança, para que nenhum tiro seja disparado contra o cidadão de bem”. O candidato ainda completa declarando que usará tática de guerra, pois, para ele, é eliminando o oponente que enfraquecerá o tráfico de drogas, pois, segundo ele diz, se o cara porta um fuzil, é porque tem dinheiro para comprar e aonde tem fuzil tem muito dinheiro e com isso, acabar com os inúmeros tiroteios nas favelas.
Bem, quem é do século passado como eu, também já viu esse filme protagonizado por um certo governador, que em 1986, um ano após fim da Ditadura, prometer acabar com a violência em seis meses e que também usava a essa tática covarde, do atira primeiro e pergunta quem é depois, como forma de acabar com o tráfico de drogas nas favelas, e o resultado disso todos nós estamos vendo até hoje.
Me sinto às vezes vivendo em pleno século XX, como na novela das dezenove horas, que é apresentada na Rede Globo, parece que fomos todos congelados e acordamos em pleno século XXI, mas ainda vivendo como estivéssemos no passado. É retrocesso demais para suportarmos.
Mas, com base nas declarações do candidato conservador, que diga-se de passagem, ele demonstra estar muito mal informado em relação ao assunto e não deve acompanhar muito os noticiários e com isso não saber que a polícia do Estado do Rio de Janeiro é a que mais mata e em consequência disso, é que mais morre também, devido ao seu total despreparo . Ele também não deve saber, que para cada policial militar morto em combate, o número de civis mais do que o dobro e a maioria dos mortos são negros. O pretendente a governador só pode estar muito mal informado ou é puro racismo e preconceito mesmo como de costume.
Quem mora em favela sabe muito bem por sofrer na própria pele que o despreparo e o mau treinamento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMRJ) é tamanho, ao ponto do policiais não conseguirem diferenciar um guarda-chuva de um fuzil, pois vimos pelos telejornais a poucos dias das eleições o assassinato de um morador do Morro Chapéu Mangueira no bairro do Leme. O mesmo carregava um guarda-chuva preto, um celular e um canguru, que é um suporte para carregar criança de colo, enquanto aguardava sua esposa em um dos pontos da kombi chegar com os filhos. Os policiais confundiram o guarda-chuva com um fuzil e o canguru com um colete a prova de bala, e por esse motivo atiraram, sem dar a menor condição de defesa a vítima, ceifando a vida de mais um trabalhador.
E quem não se lembra do morador do Morro do Andaraí que foi morto após um policial confundir uma furadeira com uma pistola? E o mais recente caso do menino Marcos Vinicius de 14 anos, morador do Complexo da Maré, que foi morto com um tiro disparado por um dos policiais que estava no helicóptero que sobrevoava a favela durante uma operação? O menino ia para escola, quando foi atingido e segundo o morador que o socorreu e sua mãe, em suas últimas palavras Marcos Vinícius disse; “eles não viram que eu estava de uniforme indo para escola mãe”.
São inúmeros os casos, diversas mortes causadas pela polícia, que o tal candidato diz ser bem treinada e preparada. E será que ele acha mesmo que muito mais derramamento de sangue irá resolver o sério problema da segurança do Rio? A pergunta que não quer calar.
Mas, sendo um pouco de sarcástica e usando a gíria falada na da favela, aí negrada, atividade na pista, heim, eles estão nos palmeando o tempo todo e é bom ficar ligado, não panguar para eles, pois como dizia o saudoso Bezerra da Silva a tempos atrás; “hoje eles pedem seu voto, amanhã manda a polícia te prender” e agora matam, executam. Esse papo de guerra às drogas é puro caô, tá ligado né? Não aguentamos mais violências nas favelas, já é hora de rever essa política ultrapassada de combate ao tráfico de drogas, parar de enxugar gelo. Combater a violência usando a própria violência é antigo demais, é um método sem eficácia nenhuma e muito arcaico, já está mais do que provado que isso não funciona em lugar nenhum do mundo.
Mas o que houve com o povo do Rio de Janeiro, que clama por mudanças, melhorias, respeito, dignidade e renovação, para eleger candidatos com ideias tão retrógradas? Aqui na Capital em especial, a maioria da população desaprova o governo do atual Prefeito, não elegeram seu filho, mas renovam a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) votando em candidatos que são apoiados pelo mesmo, pois compartilham as mesmas teorias, misturando política com religião, durante as campanhas eles não esconderam essa prática. Isso chega ser bem contraditório, sem coerência.
Não, simplesmente não dá para acreditar que um estado como o Rio de Janeiro, que é conhecido mundo afora por sua irreverência, sua alegria cativante, um Estado tão plural, que tem uma capital chamada de Cidade Maravilhosa, queira passar quatro longos anos vivendo no passado, sem avanços, com direitos sendo retirados e sem respeito às diversidades, o que é pior. Pois, pelo o que nós vemos na Prefeitura, é isso que resultado das urnas nos trará.
Mas, como sou uma carioca muito apaixonada pelo Rio, apesar dos pesares, estarei sempre na torcida por esse Estado, especialmente pela sua Capital e espero que esses políticos que foram eleitos, sejam realmente comprometido com o povo, que façam jus aos votos que receberam. Desejo muito que essa nuvem carregada que paira sobre nossas cabeças se dissipe o mais rápido possível, levando embora essa terrível tempestade e trazendo a bonança. Que o futuro do povo fluminense e do carioca seja promissor. Independente das divergências, tenho certeza que o desejo maior do nosso povo é pela Paz e que ela venha logo, pois será muito bem recebida.