Execução de Marielle escancara para o mundo a verdadeira face de um país que tentou esconder durante séculos um racismo peculiar e mortal.
É possível afirmar que a máscara por trás do conceito da Democracia Racial, levantado pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre na sua obra Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933, na verdade servil por muito tempo como uma cortina de fumaça perfeita para que a população de afro-brasileiros fosse exterminada.
Freyre argumentou que vários fatores, incluindo as relações estreitas entre senhores e escravos, antes da emancipação legal dada pela Lei Áurea em 1888, e o caráter supostamente benigno do imperialismo Português, impediram o surgimento de categorias raciais rígidas.
Freyre, também, argumentou que a miscigenação continuada entre as três raças (ameríndios, os descendentes de escravos africanos e brancos) levaria a uma “meta-raça”. A teoria se tornou uma fonte de orgulho nacional para o Brasil, que se contrastou favoravelmente com outros países, como os Estados Unidos, que enfrentava divisões raciais que levaram a significantes atos de violência. Com o tempo, a democracia racial se tornaria amplamente aceita entre os brasileiros de todas as faixas e entre muitos acadêmicos estrangeiros. Pesquisadores negros nos Estados Unidos costumavam fazer comparações desfavoráveis entre seu país e o Brasil durante a década de 1960.
Podemos concluir que a teoria de Freyre, na verdade, não passou de uma armadilha, para que a elite branca do Brasil fosse trabalhando, durante décadas, formas de opressões e extermínio, enquanto criava para o mundo o mito de que o país era pobre, mas sobre tudo feliz. Cinicamente, o governo brasileiro tocou durante décadas o seu plano perfeito de não permitir que os negros não chegassem às instituições do país, essa população foi segregada nas favelas e subúrbios, mantidas em silêncio sobre um forte sistema opressor.
Parece que agora ficou claro que o tiro saiu pela culatra.