Sem trabalho ou qualquer tipo de renda fixa, famílias de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro, recebem ajuda de projetos e ações sociais que doam quentinhas, cestas básicas, frutas e legumes. Como geralmente não possuem casa própria, estas famílias dividem o valor do auxílio emergencial do governo entre aluguel, contas de luz, gás e comida.
O “Projeto Semeando Amor”, fundado em 2002 e dirigido por Vânia Rocha e Orleanzi Queiroga, já faz esse amparo com distribuição de alimento e ainda oferece cursos de gastronomia sustentável para os moradores. “A importância do Semeando Amor na comunidade é não deixar faltar comida na mesa das crianças. Para um adulto, você até consegue falar que não tem comida, mas para uma criança é complicado. Como você vai explicar que não tem o que comer?”, questiona Vânia Rocha.
O “Semeando Amor” expandiu a distribuição de alimentos durante a pandemia. Anteriormente, apenas famílias cadastradas no projeto recebiam as quentinhas. Desde o início da quarentena até agora, foram entregues mais de 300 cestas básicas e 200 quentinhas. “E a cada semana, aos sábados, cerca de 60 famílias recebem uma bolsa com frutas, legumes e verduras”, conta Vânia.
Eunice Lacerda já precisou da ajuda do projeto, mas hoje é voluntária. “Assim como a gente está precisando, o próximo às vezes também não tem nada, então ajudamos. Nós chegamos a levar as coisas na casa de quem nem podia vir buscar”, conta Eunice, que colabora com o “Semeando Amor” há quatro anos.
Jeane Carvalho ainda recebe ajuda do projeto e também é voluntária. No momento, todos de sua família estão desempregados. “A gente ajuda quem precisa e também é ajudada. Quando precisa, vamos na casa da pessoa. Se precisar levar a cesta a gente leva, se precisar descarregar o carro a gente descarrega”, diz Jeane.
Além do “Semeando Amor”, outro projeto em Rio das Pedras também atua para atender famílias que estão precisando de suporte. A ONG “Cine & Rock” tem como principal objetivo promover a inclusão social e o empoderamento de crianças e jovens através da cultura, esporte e lazer.
O “Cine & Rock” também já tinha ações de doação de alimentos para as famílias dos assistidos pelo projeto. “A gente começou a distribuir cestas básicas para outras famílias a partir de abril, quando a situação começou a ficar muito complicada”, diz Léu Oliveira, fundador do Cine & Rock.
Entre abril e junho, a ONG doou mais de três mil cestas básicas. A arrecadação de alimentos para a montagem das cestas teve parceria com outros projetos de dentro e fora da comunidade de Rio das Pedras.
O grafiteiro Leandro Ice foi uma dessas importantes parcerias na arrecadação de alimentos. Leandro viveu a maior parte da sua vida em Rio das Pedras e atualmente mora na zona Portuária, região central do Rio, mas continua ajudando a comunidade da zona oeste. Recentemente criou um projeto particular para colorir os muros da favela. “O ‘CorAgem’ é quase como um grito de liberdade. No início eu sofri muita repressão e tive muita dificuldade para fazer arte em Rio das Pedras, devido à falta de informação e preconceito”.
Convidado por um programa de TV, o grafiteiro pintou uma arte em homenagem aos profissionais da área da saúde durante a reportagem. A princípio a obra seria doada a um hospital de campanha, porém por questões políticas, acabou não acontecendo. “Como eu já estava vendendo algumas artes para arrecadar dinheiro para comprar cestas básicas, decidi leiloar a obra com a mesma intenção. E deu certo”, conta. Ice conseguiu 10 mil reais com a obra, arrematada por um italiano. O valor foi todo revertido em cestas básicas paras as famílias de Rio das Pedras. As cestas foram entregues em parceria com o Cine & Rock e cerca de 200 famílias foram beneficiadas com essa ação de cultura e arte.
Segundo Ice, muitas pessoas passaram a olhar o setor cultural e a arte com outros olhos. “Espero que quando esse momento passar, as pessoas ainda se lembrem do verdadeiro valor da arte”, expressou. O grafiteiro fala, ainda, que a população como um todo precisa fazer sua parte para se ter um mundo melhor no futuro. “Temos que cobrar políticas públicas junto aos nossos governantes, mas também fazer o que está ao nosso alcance, como ajudar o vizinho, não jogar lixo na rua, doar uma roupa que você não usa mais, doar alimentos, se você puder. Mas, principalmente, doar afeto ao próximo, sem esperar nada em troca”, completa.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.