Eventos recentes, como a extinção da secretaria de turismo da cidade do Rio de Janeiro e a inclusão, pela lei 6.912, de 24 de maio de 2021, do Mirante da Rocinha no roteiro turístico e cultural oficial da cidade, trazem à tona questões sobre o desenvolvimento da atividade turística no Rio, e em especial nas favelas e periferias.
O turismo tem se apresentado como uma atividade econômica importante e elemento cultural para a sociedade. Contudo, foi um dos setores em que necessitou ser paralisado durante as fases agudas da pandemia da Covid-19 no Brasil. Aos poucos tem sido retomado, mas ainda com bastante cautela e diversas restrições.
O turismo nas favelas cariocas, já bem antes do aparecimento do coronavírus, é um assunto que vem exigindo reflexões sobre o que realmente se deseja para as comunidades.
As favelas, em sua criatividade na construção civil, belezas naturais, vistas encantadoras, memórias que transbordam as narrativas oficiais da história da cidade, transformam os becos e vielas em verdadeiras fontes de conhecimento para os atentos e curiosos sobre uma outra face da cidade maravilhosa.
Porém, mesmo com a ausência poder público, que na maior parte do tempo não auxilia na melhoria significativa da qualidade de vida dos moradores, a demanda pelo turismo existe. Prova disso são os diversos roteiros e caminhadas por territórios periféricos, principalmente, para turistas de outras cidades do Brasil e do mundo.
Nesta reportagem, conversamos com alguns guias de turismo sobre projetos e demandas para o setor.
Andressa Lobo, moradora do bairro de Santa Cruz e idealizadora do projeto turístico “Descubra Santa Cruz RJ”, que, entre várias ações, oferece caminhadas culturais sempre no terceiro final de semana do mês, acredita que o turismo de base comunitária vai ser um dos caminhos para a retomada econômica pós-Covid. O projeto tem parceria com o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH) e planeja tornar conhecida a história do bairro para a maior quantidade de pessoas.
“Quando o objetivo é desenvolvimento local não acho apenas válido, mas também estratégico. Quem não sonha em trabalhar perto de casa? Ter a oportunidade de trazer uma indústria criativa para o quintal é um sonho! Um sonho onde não apenas você pode crescer, mas também as pessoas ao seu redor, a sua comunidade. E é importante ainda para tirar a imagem preconceituosa que o resto da sociedade tem sobre nós”, explica Andressa.
Wellington Silva, 36 anos, taxista e guia de turismo, entende que levar pessoas de fora para conhecer um pouco do dia a dia dos moradores proporciona troca de experiências. “Na Rocinha, o turista pode almoçar num restaurante local, levar uma lembrança do lugar feito de material reciclado por artistas da comunidade ou até mesmo utilizar o moto táxi para se locomover dentro da favela. Assim, além de conhecer, de alguma forma, ele estará contribuindo economicamente também”, comenta o guia.
Wellington conta que quando era criança via os turistas subindo a Rocinha naquele “jeep” usado em safáris e não gostava do que via. “Parecia que éramos animais exóticos, e isso sempre me incomodou muito. Assim como me incomoda um comentário maldoso sobre quem é morador de favela. Sempre digo que as pessoas precisam conhecer ou pelo menos se informar antes de falar. Esses lugares, que sempre foram associados à pobreza e à violência, também têm muita cultura e trabalhadores honestos”, avalia.
“O turismo dentro das favelas é visto com bons olhos desde que seja feito com intuito de desmitificar a ideia que na favela é um lugar ruim de se morar. Favela é lugar de cultura e o turismo, tem que vir para agregar no desenvolvimento econômico e social do local”, finaliza a entrevista Oberdan Chagas (Obi Basílio), 25 anos, também morador e guia de turismo da Rocinha, e um dos idealizadores do “Favela Brothers”, onde o público-alvo são os turistas estrangeiros.
Serviço:
Favela Brothers Tours: @favelabrothers_tour
Descubra Santa Cruz RJ: @descubrasantacruzrj
Wellington Silva: @tx.well.tour
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