O retorno do Jornal do Brasil, circulando nas bancas do Rio de Janeiro e Brasília desde o último domingo (25), foi assunto comentado nas redes e nas ruas. Comemoração, saudosismo, nostalgia, polêmica, críticas, não importa: a “volta” do JB se tornou, ela mesma, a própria notícia, em um momento de tantas pautas negativas no Rio e no Brasil. E são muitos os significados e visões possíveis sobre esta retomada.
A primeira edição dominical foi histórica e comemorativa, onde o Jornal era o próprio assunto. Celebrado pelos presidentes da República desde a redemocratização até os dias atuais, (a exceção é FHC, colunista do Globo e estranhamente, Dilma, que ficou de fora), ex e atuais governadores, prefeitos, ministros do supremo, presidente da ABI, blogueiros progressistas, príncipes, arcebispos. Se o negócio do novo JB é pluralidade e diversidade de opiniões, ponto pra ele. De toda forma, que outro jornal do Brasil teria a capacidade de escalar um time desses na sua edição dominical?
Após minguar melancolicamente até sair de circulação no início da primeira década do século XXI, reduzindo-se a um portal de pouca expressão na internet, a”marca” Jornal do Brasil foi comprada em um negócio liderado pelo empresário Omar “Catito” Perez, cidadão com incursões duvidosas na política e na imprensa brasileiras, mas que tem se destacado em empreitadas comerciais que visam resgatar símbolos da “belle époque” de uma certa elite intelectual brasileira, como os restaurantes Piantella, em Brasília, tradicional ponto de encontro de políticos na capital federal, e o Fiorentina, no Leme. A volta do JB parece ser parte dessa estratégia de investir em “marcas” de alto valor simbólico agregado, mas que, nos últimos anos, padeceram com a crise econômica e problemas de gestão. Se economicamente as apostas de Omar Perez vão dar certo, aí é outra questão.
O fato é que o novo JB, que volta a circular diariamente, com uma tiragem modesta para os padrões da grande imprensa (20 mil exemplares de segunda a sábado, 40 mil aos domingos), parece estar buscando o seu público, buscando atrair tanto os saudosos “daquele” JB, como leitores ávidos por algum contraponto ao modelo jornalístico quase hegemônico na grande imprensa brasileira e, particularmente no Rio de Janeiro, com o monopólio quase absoluto do Jornal O Globo nas bancas. Estamos falando de uma parcela da classe média mais progressista, com alto nível de instrução e acesso a outras fontes de informação, especialmente nas mídias digitais, mas que sente falta de um jornal para chamar de seu.
O decálogo que o Jornal apresenta em seu editorial é liberal na economia e conservador na política. Mas o JB de Nascimento Brito, o Jornal tão celebrado pela nostalgia da esquerda, também era conservador em sua opinião editorial. O que fazia a diferença era a qualidade de sua redação, a elegância de seu projeto gráfico, a relevância e a credibilidade de seus colunistas.
Teresa Cruvinel na coluna diária de política, Jan Teophilo no informe JB, artigos de Alberto Dines, Marcia Tiburi, Emir Sader, Paulo Henrique Amorim, entrevista de Julita Lemgruber sobre a intervenção federal no Rio, reportagens sobre a reunião das fundações partidárias dos partidos de esquerda para a formulação de bases programáticas em comum… quando seria possível ler isso tudo, em menos de uma semana, nas páginas do Globo, Folha, Estadão? “Ah, mas são jornalistas homens, velhos, faltam negros, faltam mulheres…”. Tudo verdade! Mas o JB é grande imprensa, foi e continuará sendo. Neste ponto, não tem novidade. Mas o contraponto às vozes hegemônicas e repetitivas dos outros jornalões, venha de onde vier, será sempre bem-vindo. Portanto, que bom que o JB voltou!