Para os 30 milhões de brasileiros que sem saneamento básico ou os 11 milhões que moram nas milhares de favelas no país de dimensões continentais soa impossível obedecer às recomendações sanitárias básicas, como lavar as mãos com água e sabão várias vezes ao dia e usar álcool gel, luxo inalcançável. Trabalhar em casa é impossível e alimentar os filhos só mesmo saindo para vender coisas nas ruas.
Nas comunidades superpovoadas poucos confiam nas autoridades, o estado só aparece com uniforme policial e vive-se com o que se ganha no dia. Num cenário assim, combater o coronavírus é missão muito delicada que preocupa os governantes e na qual a sociedade civil se empenha na tentativa de evitar a catástrofe anunciada.
Dados da prefeitura do Rio de Janeiro datados de hoje, 5, dão conta de 5 casos de coronavírus em Manguinhos, 4 na Rocinha e um em cada uma no Complexo do Alemão, Cidade de Deus, Mangueira e Vidigal. Como as autoridades sanitárias temiam e advertiam, a pandemia subiu o morro e entrou nas comunidades horizontais e, agora, ninguém pode prever o que acontecerá.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, explicou em entrevista recente que a Covid19 “chega de classe executiva, mas se depara com uma realidade de alta densidade populacional e em condições habitacionais de muitas vulnerabilidades, caso de muitas das nossas periferias e favelas em todos os centros urbanos do Brasil. Além disso, temos uma mobilidade urbana difícil, com transportes lotados”.